Na Bielo-Rússia, artistas de teatro enfrentam a ditadura 

Ao longo de 15 anos, grupo que atua sem permissão do Estado já fez exibições em 40 países de suas peças que tratam de liberdade artística, direitos humanos e críticas a ditaduras

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Foto do author Levy Teles
Por Paulo Beraldo e Levy Teles
Atualização:

Se para milhares de bielo-russos marchar contra a ditadura era novidade, até bem pouco tempo, para outros críticos de Alexander Lukashenko as prisões e o exílio se tornaram rotina. É o caso de Natalia Kaliada, diretora do Belarus Free Theatre, grupo de teatro independente fundado em 2005 na capital Minsk, que tem sido alvo de repressão. Natália, o marido e a filha fugiram para o Reino Unido. 

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“O Belarus Free Theatre é o único teatro na Europa banido pelo próprio governo”, afirma. Ao longo de 15 anos, o grupo que atua sem permissão do Estado já fez exibições em 40 países. Os temas das peças estão relacionados à liberdade artística, direitos humanos e críticas a ditaduras. “Quando criamos, nosso trabalho é provocar os políticos e fazer a plateia pensar”, conta. “Assim, fomos capazes de ter um grande impacto na sociedade.”

Para Natalia, é isso que coloca a ditadura de Lukashenko em “modo de pânico” e provoca repressão. Ela conta que integrantes do grupo foram presos após apresentações – ela e o marido, inclusive. Em agosto de 2007, os integrantes e toda a plateia acabaram atrás das grades antes do início de uma peça. 

Natalia Kaliada e o marido, Nikolai Khalezin, em seu apartamento em Londres Foto: John Sibley/Reuters

Para ela, as prisões ocorreram porque o grupo consegue tocar “nas feridas do sistema”. “As pessoas conseguem imaginar uma vida diferente, segura, onde existe democracia, onde elas podem acreditar que seus vizinhos não serão sequestrados, torturados. Então, é possível imaginar um país totalmente diferente.”

A equipe de 12 artistas faz ensaios por Skype e performances em locais diferentes na capital e no interior do país. Geralmente, o público reúne 50 pessoas e os ingressos se esgotam em menos de uma hora após o anúncio da apresentação. 

Natalia diz que o país finalmente acordou de um “longo coma político”. “Neste despertar da Bielo-Rússia, as redes sociais foram fundamentais. Antes, a internet não era tão difundida. A imprensa não é livre e é quase uma máquina de propaganda de Lukashenko.” 

Pela web, os artistas lideram a campanha “Estou com os banidos”, que reúne pessoas em solidariedade aos ativistas proibidos, censurados e presos na Bielo-Rússia e na Rússia. Artistas como a bielo-russa vencedora do prêmio Nobel, Svetlana Alexievich, e a diretora polonesa Agnieszka Holland aderiram à iniciativa. 

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“Os bielo-russos estão exaustos. Simplesmente não aguentam mais ter Lukashenko à frente do governo. É inaceitável. Toda a geração de jovens sairá do país se ele continuar no poder”, diz Natalia.

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