Na Faixa de Gaza, o verdadeiro inimigo é o Irã

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Por Yossi Klein Halevi Michael B. Oren e The Los Angeles Times
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As imagens de Gaza mostram um poderoso Exército invasor, equipado com jatos F-16, bombardeando uma população civil defendida por poucos milhares de combatentes armados de foguetes primitivos. Mas uma análise mais profunda revela a verdadeira natureza do conflito. O Hamas, assim como o Hezbollah, no Líbano, não passa de uma força avançada do verdadeiro inimigo com o qual Israel se defronta: o Irã. E a atual operação de Israel contra o Hamas representa um golpe estratégico ao expansionismo iraniano. Até o momento, a revolução iraniana parecia irrefreável. A Guerra Irã-Iraque, na década de 80, acabou na ocupação de parte do território iraquiano por tropas iranianas. A influência iraniana espalhou-se da Arábia Saudita até o Líbano, por meio do Hezbollah. A Síria foi atraída para a esfera iraniana, e os emirados do Golfo agora se submetem ao Irã, despachando seus chanceleres para Teerã e desafiando as sanções internacionais contra esse país. O Irã cooptou o Hamas, uma organização sunita estreitamente vinculada à Irmandade Muçulmana egípcia, transformando o conflito israelense-palestino em uma jihad contra o Estado judeu. Mas a façanha mais ousada do Irã foi contrariar a pressão internacional e avançar rumo ao arsenal nuclear. Dotada de armas nucleares, a hegemonia iraniana no Oriente Médio seria completa. Tudo isso explica as declarações de líderes árabes moderados, como o egípcio Hosni Mubarak e o chefe da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, que atribuíram o fim da frágil trégua entre Israel e Hamas ao próprio Hamas. O chanceler egípcio, Ahmed Abu Gheit, chegou a pedir ao mundo árabe que parasse de usar a ONU como fórum para criticar apenas Israel pelos bombardeios - o primeiro a tomar tal iniciativa. Estes líderes compreendem o que muitos no Ocidente ainda não perceberam: o conflito no Oriente Médio já não é apenas pela criação de um Estado palestino, mas para impedir que radicais islâmicos assumam o controle da região. Na realidade, a criação de um Estado palestino será impossível se os extremistas que se opõem ao diálogo não forem neutralizados. Se Israel derrotar o Hamas em Gaza, revigorará as forças contrárias ao Irã em todo o Oriente Médio e mostrará à região que o ímpeto iraniano pode mudar radicalmente. É possível que a operação militar israelense dê início ao processo de derrubada de um regime extremista que tomou o poder na Faixa de Gaza em 2007 e disparou milhares de foguetes e granadas de morteiros sobre bairros israelenses. Quer o Hamas seja derrotado ou não, Israel atingirá objetivos importantes. O primeiro é um cessar-fogo absoluto. Os acordos de trégua anteriores permitiram que o Hamas contrabandeasse armas do Egito para Gaza através dos túneis. Agora, para obter um cessar-fogo, a comunidade internacional deverá reconhecer o direito de Israel de reagir a toda agressão e monitorar o fechamento dos túneis que o Hamas usa para o tráfico de armas. Acima de tudo, o objetivo é garantir que o Hamas seja impossibilitado de proclamar a vitória e desse modo ampliar o prestígio iraniano no mundo árabe. * Yossi Klein Halevi e Michael B. Oren são membros do Instituto Adelson de Estudos Estratégicos do Shalem Center de Jerusalém

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