Na Flórida, a mais multicultural votação dos EUA

Terreno bilíngue, Estado tem tradições políticas importadas de várias partes do mundo

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Por Denise Chrispim Marin , BOCA RATON e EUA
Atualização:

BOCA RATON, EUA - Nenhum dos Estados americanos ainda indecisos nesta eleição presidencial tem tanta importância quanto a Flórida. A península de clima tropical, paraíso de aposentados endinheirados e expatriados latino-americanos, responde por 29 delegados no Colégio Eleitoral, a instância que decidirá quem comandará os EUA nos próximos quatro anos.

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O presidente Barack Obama e o Mitt Romney cultivaram esse terreno insistentemente nos últimos meses. Mas na terça-feira dependerão essencialmente de seus militantes e dos eleitores porto-riquenhos.

A média das consultas calculada pelo Real Clear Politics dava ao republicano 49% das intenções de voto até o dia 1o. O presidente vem logo atrás, com 48%. Para a cientista política Susan McManus, da Universidade de Miami, o grau de empenho dos voluntários democratas no dia da eleição será decisivo nesse Estado.

Qualquer descuido fará Romney levar fácil os 29 delegados da Flórida e ganhar um peso enorme para vencer a eleição. "Tudo depende do trabalho de formiguinha dos voluntários com os jovens, que sempre deixam para votar na última hora, os democratas latinos e os 20% de eleitores independentes", afirmou.

 

Os analistas políticos costumam dizer que, na Flórida, há uma eleição presidencial diferente a cada quatro anos. O mesmo não ocorre em Wisconsin ou New Hampshire, onde a diversidade social é mínima. A Flórida, como explica Susan, tem sua política importada de várias partes do mundo e dos EUA. É um terreno bilíngue e multicultural. O tecido social explica esse fato.

 

Esse universo é hoje um pouco mais latino e negro do que em 2008. A maioria de origem anglo-saxã está minguando. Era de 69,1% quatro anos atrás; hoje, são 67,5% dos eleitores. Os latinos de diferentes procedências somam 13,5% desta vez - 2,5 pontos porcentuais a mais - e os negros passaram de 13,0% para 13,3%.

Esse conjunto forma, a rigor, duas diferentes Flóridas, como explica o historiador John Pickering, da Lynn University. O norte, onde se concentram os afro-americanos e boa parte dos anglo-saxões, segue os valores ultraconservadores de outros Estados sulistas dos EUA. O sul da Flórida tem a maior presença de latinos, sobretudo cubanos (32% dos eleitores do Estado), porto-riquenhos (28%) e mexicanos (9%), além dos judeus.

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Observando com uma lupa, os judeus aposentados migrados para a Flórida, como a ex-secretária de Estado Madeleine Albright, fazem da região de Palm Beach o seu bolsão. Os porto-riquenhos ocupam principalmente o centro da península, ao redor de Orlando. Miami, ainda conhecida como paraíso dos cubanos expatriados, superou nesses quatro anos a fama de San Francisco como paraíso da comunidade gay.

Os cubanos continuam engajados aos dogmas republicanos e sensibilizados pelo compromisso do partido de manter o embargo econômico a Cuba e pelo carisma de seus líderes estelares, como o senador Marco Rubio. Os jovens, embora conservadores como os pais, estão cada vez menos atentos às questões de política exterior, avalia Pickering.

"Creio, sim, que vamos vencer na Flórida. O governador Romney vai falar aqui sobre o futuro, sobre seus planos para fazer a economia crescer e trazer prosperidade ao povo americano. Obama tem se dedicado a ataques pessoais", disse Rubio ao Estado.

A cubana Adi Rico, de 53 anos, é eleitora independente, se diz de direita e vai deixar para escolher seu candidato na última hora. Votou em Bill Clinton em 1992 e 1996, mas há quatro anos preferiu o republicano John McCain ao democrata Obama. Mitt Romney a "assusta". Primeiro, por ter defendido posições radicais para lidar com a economia e o desafio de equilibrar as contas públicas do país. Obama, para ela, foi "formidável" ao adotar a reforma da Saúde.

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"De um lado, não tenho ideia do que Romney fará no governo, se for eleito. De outro, Obama me parece um governante frágil", afirmou.

No terceiro e último debate entre Obama e Romney, na Flórida, Cuba não foi mencionada, apesar de o evento estar centrado na política externa americana para os próximos quatro anos. A omissão desse tema não causou celeuma. A discussão sobre a relação EUA-Israel, ao contrário, esteve entre as mais exploradas. Romney tentou atrair o eleitorado judeu da Flórida, mesmo ciente de ser esse grupo tradicionalmente democrata. Obama enfatizou seu apoio a Israel para não perder esses votos.

Tampouco foi tratada, no debate, a posição dos dois candidatos sobre a questão dos imigrantes ilegais, muitos dos quais ingressam nos EUA pela Flórida e aí se estabelecem. O Estado é sensível ao tema, principalmente pela pressão dos que não vieram de Cuba e Porto Rico. Obama tem como passivo o fato de não ter promovido uma ampla reforma do sistema imigratório, mas o driblou com um decreto, assinado neste ano, permitindo a legalização de jovens ilegais. Romney ainda carrega o peso de sua defesa da "autodeportação".

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Os mexicanos da Flórida, assim como os judeus, são fortemente democratas. Os imigrantes da Guatemala e da República Dominicana, em sua maioria, ainda não votam. O fiel da balança desta eleição, segundo Susan McManus, será o porto-riquenho. Trata-se de um universo expressivo e dividido.

Os de segunda ou terceira geração, muitos vindos de Nova York ou New Jersey, tendem a votar pelos democratas. Os vindos diretamente da ilha são republicanos. O eleitorado porto-riquenho representa 28% dos latinos da Flórida.

 

 

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