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Na fronteira com Brasil, há quem pague para voltar ao caos chavista

Refugiados cobram de imigrantes que precisam entrar na Venezuela para ajudar parentes 

Foto do author Felipe Frazão
Foto do author Luiz Raatz
Por Felipe Frazão e Luiz Raatz
Atualização:

A enfermeira venezuelana Edilia Marrero, de 41 anos, chegou na segunda-feira, 25, a Pacaraima, depois de uma temporada de trabalho em Buenos Aires, na Argentina, onde há demanda por profissionais de saúde. Na Venezuela, contou Edilia, cresce a incidência de aids, tuberculose e muitos estão deixando o ofício por riscos de contaminação. Os hospitais têm condições insalubres e nem sempre há retrovirais para tratar quem, como ela, já se feriu com agulha descartável no lixo.

Há seis meses, ela não via as três filhas adolescentes que ficaram em Maracay com o pai, dono de uma loja de bebidas. Além do diploma de enfermeira, Edilia trazia da Argentina presentes para as meninas em duas malas: camisetas, biscoitos e remédios, como soro fisiológico, antiespasmódicos e analgésicos – escassos e caros na Venezuela. Na fronteira, Edilia correu risco de virar alvo de criminosos.

Carregador de mala leva bagagem de Edilia Marrero (camiseta rosa), enfermeiraque tenta entrar na Venezuela por trilha clandestina em Pacaraima, Roraima Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Como se deparou com a passagem oficial bloqueada, ela recorreu aos coiotes de Roraima, que indicaram carregadores de bagagem e articularam a travessia. Do lado venezuelano, ela conseguiu um carro para levá-la a um ponto seguro em Santa Elena de Uairén. Por travessias assim, paga-se R$ 50 por mala, preço padrão da bagagem levada nos ombros e na cabeça ou empurrada em carrinhos.

“Faz tempo que não venho à Venezuela. Nunca fiz essa travessia. Vocês não sabem o medo que dá, porque não estou acostumada”, disse. “Minhas filhas não queriam que eu viesse. Mas é uma angústia você ver suas filhas sem ter o que comer. É um temor, uma desgraça. Tristeza e impotência.” 

Um dos carregadores de malas era Darwin Padrino, de 29 anos, que há quatro meses faz do ofício um modo de sobreviver em Pacaraima. “A gente ganha uma ajuda de R$ 20 por trajeto. Dá para nos mantermos e ainda mandar um pouco de dinheiro para a Venezuela”, disse Padrino, que é de Caracas.

Muitos carregadores moram nos abrigos da Operação Acolhida, caso de José Gregorio Altiaga, de 28 anos, e de Daniel José Maita, de 21, que carregavam sacos com suprimentos para algumas venezuelanas. “A gente se ajuda. Elas nos deram o que podiam dar”, disse Altiaga. 

A relação dos carregadores com a Guarda Nacional Bolivariana é tensa. Eles estavam entre os venezuelanos de Pacaraima que apedrejaram soldados e incendiaram uma base no fim de semana. “A coisa está feia. Os guardas estão por todo lado e atiram com balas de borracha”, disse Javier Garcia Almeida, de 28 anos, que voltou para Pacaraima empurrando um carrinho com três malas.

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Maribel Fernandez, de 41 anos, observa a froteira do Brasil com Venezuela. Ela não consegue voltar para casa após visitar sua sobrinha em Pacaraima, em Roraima. Foto: Daniel Teixeira / Estadão 
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