Na OEA, Paraguai denuncia 'nova Tríplice Aliança'

Embaixador de Assunção evoca coalizão do século 19 entre Brasil, Uruguai e Argentina; bloco americano enviará missão observadora

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Por Denise Chrispim Marin , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

A Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu ontem enviar a Paraguai uma missão para investigar o processo de impeachment contra o ex-presidente Fernando Lugo, deposto na sexta-feira. A decisão não foi fruto de consenso entre os embaixadores dos 34 países da organização, mas uma iniciativa do seu secretário-geral, o chileno José Miguel Insulza. Incluindo o Paraguai, apenas 16 países apoiaram a medida, a ser conduzida entre sábado e terça-feira.O embaixador do Paraguai na OEA, Bernardino Hugo Saguier, reagiu à versão dos países bolivarianos de que houve um golpe de Estado e apoiou a "visita aberta" das autoridades da organização a seu país. "Exortamos os países irmãos a respeitar a autodeterminação dos povos e o princípio da não intervenção, direta ou indireta, em assuntos internos. Exigimos que se abstenham de ingerência e de aplicar ou estimular medidas econômicas coercitivas para forçar a vontade soberana do nosso povo", declarou Saguier.Ele também criticou a proposta brasileira de esperar a reunião de chefes de Estado da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), amanhã em Mendoza, Argentina, para que uma decisão fosse tomada.Saguier acusou os presidentes dos países vizinhos de ter previamente decidido expulsar o Paraguai do Mercosul e da Unasul. Ele afirmou que 90% da população paraguaia, se consultada, aprovaria a saída do país do Mercosul e os países vizinhos "não têm o direito de humilhar a nação paraguaia". A delegação brasileira ficou irritada quando o embaixador mencionou a Guerra do Paraguai (1864-1870), vencida pela aliança Brasil-Argentina-Uruguai."O que vocês querem é fazer uma operação conjunta para expulsar o Paraguai de todos os organismos internacionais. Podem ir adiante. Se querem fazer uma Tríplice Aliança reforçada, estamos preparados. O Paraguai não é um país de se curvar às imposições das forças externas", declarou Saguier."O senhor deveria se lembrar que está sentado como representante de um governo não reconhecido por ninguém nesta organização. O Paraguai está aqui hoje como reflexo do respeito e da generosidade de todos os países da organização", rebateu Breno Dias da Costa, representante interino do Brasil na OEA, após considerar "desnecessária e gratuita" a menção à Guerra do Paraguai.Na sessão de ontem do Conselho Permanente da OEA, nenhum país reconheceu como legítimo o novo presidente paraguaio, Federico Franco, e, segundo Dias da Costa, várias nações tentaram impedir a presença do embaixador paraguaio no debate, alegando justamente não haver reconhecimento do novo governo. Mas a pressão foi contornada em conversas preliminares. Liderados pela Nicarágua, sete países defenderam ontem o retorno de Lugo ao poder. O grupo exigia também a condenação, pela OEA, do "golpe parlamentar de Estado" e a suspensão do Paraguai da OEA enquanto essas medidas não forem aplicadas. Isso significaria, por exemplo, o bloqueio do acesso de Assunção aos financiamentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).Em claro questionamento da posição política do Conselho Permanente da OEA, a Argentina somou-se ao grupo da Nicarágua, mas insistiu na convocação de uma reunião extraordinária de chanceleres. Os Estados Unidos desapareceram no debate, depois de mencionar a promessa de Franco de realizar as eleições presidenciais marcadas para agosto de 2013. Canadá e Peru foram igualmente neutros ao defenderem o cuidado para não se tomar medidas prematuras.Neutralidade. O Brasil não se alinhou a nenhum dos polos: nem ao envio da missão da OEA nem à condenação do Paraguai por ter promovido um "golpe de Estado". Dias da Costa destacou a compreensão do governo brasileiro de ter havido um "rito sumário" contra Lugo e o "rompimento da ordem democrática". Mas alegou ser melhor opção esperar o encontro de chefes de Estado da Unasul.

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