Na Unasul, Brasil pedirá transparência em acordos

Brasília e Quito devem propor medidas para monitorar programas militares com países de fora da região em encontro que começa amanhã

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Por Denise Chrispim Marin e BRASÍLIA
Atualização:

O governo brasileiro vai propor a adoção de uma norma que obrigue todos os países da América do Sul a notificar seus acordos de Defesa com países de fora da região à União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a divulgar seus acertos, gastos militares, compras de armamentos e origem de seus arsenais. A sugestão será apresentada durante a reunião de ministros da Defesa e de chanceleres da Unasul, que começa amanhã em Quito, no Equador.Preocupado com os termos do acordo que permitirá aos EUA instalar bases militares na Colômbia, o Itamaraty também deve aproveitar a reunião para pedir a Bogotá mais esclarecimentos sobre o pacto. Além do combate ao tráfico de drogas e de armas e aos grupos terroristas, o texto do acordo explicita o objetivo de defender e promover a "democracia e a liberdade". Para o Itamaraty, esses termos abrem uma ampla brecha para que, em nome da "democracia e da liberdade", militares americanos partam das bases na Colômbia para ataques a vizinhos que, na avaliação de Washington, rompam com esses princípios."Não tenho nada contra a democracia e a liberdade. Mas a forma como foi grafada no acordo aumenta nossa preocupação", afirmou ao Estado o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Assim como o Brasil, o Equador, anfitrião da cúpula, também fez duas sugestões. Na primeira, Quito propõe a elaboração de uma espécie de código de conduta sobre gastos militares para os países da Unasul. Na segunda, sugere a criação de uma comissão permanente do Conselho Sul-Americano de Defesa, que formularia mecanismos capazes de garantir mais confiança entre os países da região. A finalidade dessas e de outras propostas é extrair compromissos para que a experiência do acordo militar Colômbia-EUA não se repita. Ao mesmo tempo, o Itamaraty espera a consolidação da Unasul como mecanismo político para a solução de questões regionais na área de defesa e segurança e para a promoção de mais cooperação entre os países - uma válvula de escape para possíveis conflitos e uma alternativa à maior aproximação de países de fora da América do Sul. Curiosamente, a reunião de Quito não será do Conselho de Defesa da Unasul - órgão criado no ano passado, por sugestão do Brasil. O encontro de amanhã partiu de uma determinação dos presidentes dos países da Unasul, que se reuniram em Bariloche, em 28 de agosto para lidar com o impasse aberto pelo acordo Colômbia-EUA. A primeira reunião do Conselho de Defesa continua sem data marcada.

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