CARACAS - Widerven Villegas e seu irmão lavam cerca de 30 carros por dia em um estacionamento em Caracas, na Venezuela. Apesar de cobrarem menos de 50 centavos, nenhum cliente paga em dinheiro. “Eu aceito transferências. Eu tenho Tpago, Vippo e quase todos os aplicativos”, disse Villegas, de 35 anos, com um tablet desgastado e um celular básico nas mãos. “Nós não lidamos com dinheiro porque nossos clientes não têm isso”, ele disse.
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Praticamente todos os venezuelanos usam aplicativos para fazer pagamentos por meio de celular ou tablets. Sem notas em circulação suficiente para dar conta de uma hiperinflação que pode chegar a 13.000% em 2018, segundo o Fundo Monetário Internacional, todos os comerciantes usam aplicativos para receber.
Foi assim que pequenas empresas de tecnologia localizadas na Venezuela encontraram um filão para explorar e estão se dando bem em meio a crise. O Nekso, um programa de transporte individual similar ao Uber que permite pagamento via aplicativo, dobrou o número de atendimentos. O Vippo, para pagamento online, aumentou em 30 vezes o número de usuários. O Citywallet, nascido como um projeto-piloto para pagar estacionamentos, quadruplicou o total de usuários.
O sucesso dos aplicativos deve aumentar em 2018. Cerca de 18 bancos venezuelanos privados lançaram no ano passado um aplicativo de pagamento eletrônico para consumidores. O Mercado Libre, a maior empresa de comércio online da América Latina, também oferece uma solução de pagamento local.
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Até Nicolás Maduro entrou na onda ao lançar um código QR para ser incluído no cartão de identificação do bem-estar social do governo e anunciar planos de criação de uma moeda digital. “Talvez a nossa economia seja a primeira do mundo sem dinheiro, antes da Dinamarca”, ironizou Miguel León, um engenheiro eletrônico que ajudou a desenvolver o Vippo. / REUTERS