Na zona de batalha, nem as casas são seguras em Gaza

Não há indicação de que cessar-fogo firmado no domingo será respeitado

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Por Agencia Estado
Atualização:

A população civil de Gaza não tem onde se esconder. A guerra entre militantes do Hamas e do Fatah alcançou as ruas. As balas, as granadas e as tiros de morteiros estão atingindo todos os lugares, casas, lojas e escolas. ?Qualquer um que diga que não está com medo é um mentiroso", disse no domingo Zaher Abdel Rahman, um técnico do computador cujo o apartamento do sexto andar na cidade baixa de Gaza foi atingido por balas e tiros de morteiro. Não há lugar para correr. A fronteira da Faixa de Gaza está fechada, deixando 1,4 milhão de palestinos em um território com apenas 27 milhas (43 quilômetros) e 5 milhas de profundidade. Alimentos e produtos básicos estão acabando. Um breve cessar-fogo foi declarado na noite de domingo, mas não havia nenhuma indicação de que seria respeitado, como aconteceu com os que o precederam. Os moradores de Gaza estão acostumados com tanta violência. Mas recentemente, o combate entre militantes palestinos, as tropas israelenses e as linhas de batalha eram nítidos. Tiroteios Nas últimas semanas de enfrentamentos entre Hamas e Fatah, o quadro mudou. Os tiroteios acontecem a qualquer hora, combatentes pobremente treinados atiram aleatoriamente, e o alvo é desconhecido. As batalhas deixaram Gaza repleta de carros queimados e edifícios destruídos. Algumas de suas instituições mais conhecidas, incluindo mesquitas e universidades, foram pesadamente danificadas pelo fogo, por mísseis e tiros. A situação da população é civil é delicada. Os atiradores examinam os locais dos telhados dos edifícios mais altos da cidade de Gaza, colocam barreiras temporárias em áreas residenciais e poucos arriscam sair quando não há disparos. Os moradores estão receosos de dizer para os atiradores deixarem suas casas, principalmente pelo perigo que eles atraem. No sábado, uma estação de rádio do Hamas advertiu que os militantes do grupo atacariam qualquer edifício que abrigasse rivais. Mas a ameaça não foi cumprida. Mesmo nas áreas que não ocorrem enfrentamentos, as pessoas estão desconfiadas e evitam sair de suas casas. No domingo, as crianças que saíram para as ruas andavam encostadas nas paredes para diminuir o perigo, caso ocorresse algum tiroteio. Alguns moradores comparam a atual situação com a luta que devastou Beirute durante a guerra civil do Líbano nos anos 70 e 80. "Minha esposa não parava de gritar na noite de sexta-feira, tentei confortá-la. Ela me olhou e disse, ´você está gritando também´", disse Abdel Rahman, técnico de computador, ao relatar a batalha que ocorreu fora do seu edifício. "Nós estávamos rastejando até mesmo para ir ao banheiro". Sua casa é próxima a um quartel general pró-Fatah, local em que ocorrem batalhas mais pesadas. A família disse ainda que a eletricidade do edifício de apartamento foi cortada por três dias. Durante as tréguas, moradores de Gaza correm para comprar mantimentos. Mas muitos supermercados estão fechados. Leite e pão, por exemplo, estão em falta. Próximo ao quartel general de segurança, a população passa por três bloqueios do Fatah. Logo após deste local, um atirador do Hamas disse a um motorista que olhava os danos: "Siga adiante e dirija. Se não, seu carro ficará como estes". A situação da Faixa de Gaza piorou deste que o Hamas derrotou o partido do Fatah nas eleições legislativas há um ano. A mais sangrenta batalha irrompeu na quinta-feira, deixando 28 mortos e mais de 230 feridos em quatro dias. Universidade A universidade islâmica aliada do Hamas foi duramente atingida. Quase todos seus nove edifícios foram danificados por foguetes e pelo fogo. Os computadores foram roubados, as salas de aula foram reduzidas a escombros e os laboratórios de ciência foram destruídos. Awni Abdel Kader, bibliotecário principal da universidade, informou que 3.000 livros foram destruídos, incluindo trabalhos religiosos e raros. Alguns estudantes e funcionários inspecionaram a universidade no domingo para calcular os danos. "Deus puna-os,? disse uma estudante ao deixar o edifício. No domingo, os atiradores do Hamas atacaram bases de tropas aliadas ao Fatah, antes do anúncio de mais um cessar-fogo. Oficiais do Hamas e do Fatah conduziram patrulhas em comum e policiais trocaram atiradores. Os rivais começaram a libertar reféns também, informaram oficiais. Tréguas As tréguas anteriores foram curtas. O Hamas acusou o Fatah de seqüestrar um de seus combatentes após o início do cessar-fogo. A trégua de domingo começou antes de um encontro planejado para esta terça-feira entre o presidente palestino Mahmoud Abbas do Fatah e o líder exilado do Hamas, Khaled Mashaal, na Arábia Saudita. O primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, deve participar também. Abbas está tentando formar uma coalizão moderada para conseguir assim suspender as sanções internacionais contra o governo do Hamas. Hamas rejeitou as exigências internacionais para renunciar a violência e reconhecer a existência de Israel, apesar das sanções econômicas causarem grandes dificuldades e impossibilitarem o pagamento de dezenas de milhares de empregados civis.

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