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Nações islâmicas dizem que cabe à ONU definir terrorismo

Por Agencia Estado
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Um notável encontro de nações muçulmanas produziu nesta terça-feira uma ardorosa defesa do Islã e um forte apoio aos palestinos, mas não atingiu sua tarefa mais ambiciosa - definir terrorismo. Divisões entre os países sobre o que constitui terrorismo - sobretudo no que diz respeito aos ataques suicidas a bomba palestinos contra civis israelenses - ocorre no momento em que os 1,2 bilhão de muçulmanos do mundo esperam que seus líderes contenham o que vêem como uma campanha de difamação contra sua fé desde os ataques de 11 de setembro. Os atentados, atribuídos ao extremista islâmico saudita Osama bin Laden, foram executados por 19 seqüestradores muçulmanos, 15 deles da Arábia Saudita, que abriga os locais mais sagrados da religião e é um aliado árabe próximo de Washington. Muitos muçulmanos sentem que os ataques colocaram sua fé sob uma avaliação injusta feita por um Ocidente que, para eles, está adotando a idéia de que o Islã e a violência são intimamente ligados. Os ministros do Exterior e altas autoridades dos 57 membros da Organização da Conferência Islâmica reunidos na Malásia emitiram uma declaração ao fim de três dias de discussões que afirma que nenhuma cultura ou religião podem ser vinculadas ao terrorismo. Mas, ao mesmo tempo em que condena todas as formas de terrorismo, a declaração não rotula de terroristas atacantes suicidas palestinos - ou deixa muito espaço para esta interpretação, considerando que a luta palestina contra Israel é uma luta legítima contra uma ocupação estrangeira. Ponto final. A conferência passou a questão da definição de terrorismo para as Nações Unidas, num hipotético encontro sobre o assunto que muitos acreditam nunca será realizado devido à oposição dos Estados Unidos. A não-definição de terrorismo também pode ser usada por alguns governos muçulmanos para se abrigarem de acusações de promover terrorismo de Estado na repressão de críticos ou apoio à insurgência armada. Durante o encontro, delegados se dividiram sobre se uma definição islâmica de terrorismo teria algum valor, com alguns defendendo que só uma definição aceita globalmente faria sentido. É necessária "uma definição que seja aceita por todas nações, e respeitada por elas", disse o ministro do Exterior sudanês, Mustafa Ismail, cuja nação sediará a próxima reunião dos ministros do Exterior da OCI, em junho. O primeiro-ministro malaio, Mahatir Mohamad, um aliado-chave dos EUA na repressão à Al-Qaeda, abriu o encontro com uma proposta de que todos ataques contra civis sejam considerados terrorismo. Delegados palestinos e outros do Oriente Médio disseram que os atentados a bomba eram uma reação ao terrorismo de Estado de Israel nos territórios palestinos. "Rejeitamos qualquer tentantiva de vincular com o terrorismo a luta do povo palestino no exercício de seu direito inalienável de estabelecer seu Estado independente", afirma-se na declaração. Sem mencionar diretamente os Estados Unidos, a declaração critica ações unilaterais contra nações no combate ao terrorismo dizendo que a cooperação global seria minada. O vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, não conseguiu num recente giro pelo Oriente Médio conquistar o apoio árabe para uma possível ação militar contra o Iraque, acusado por Washington de desenvolver armas de destruição em massa e fomentar o terrorismo. "Infelizmente, alguns podem definir terrorismo caso a caso, segundo suas prioridades e políticas, e é por isso que eles estão impedindo que a comunidade internacional adote uma definição de terrorismo", disse o vice-ministro do Exterior do Irã, Mohamad Zarif. A declaração também expressa comprometimento com "os princípios e verdadeiros ensinamentos do Islã, que abomina a agressão, valoriza a paz, a tolerância e o respeito". A luta contra o terrorismo não deve "resultar no estabelecimento de um perfil étnico ou no ataque contra uma comunidade em particular", acrescentou. A conferência também apoiou um plano de paz sem precedentes para o Oriente Médio adotado por uma cúpula da Liga Árabe no Líbano na semana passada que oferece a Israel plenas relações com todos países árabes em troca da retirada isralense dos territórios ocupados na guerra de 1967 e a criação de um Estado palestino com Jerusalém Oriental como sua capital.

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