28 de novembro de 2016 | 05h00
Ao longo da sua extensa vida política, Fidel Castro sempre se considerou acima dos outros. “Condenem-me, não importa, a História me absolverá”, pronunciou em 1953 durante o julgamento que terminou por condená-lo pela invasão do quartel Moncada. Em abril, afirmou: “Logo serei como os demais”. De algum modo, acreditava que até então não o era.
E assim foi realmente, especialmente em Cuba, onde era tudo, uma espécie de Deus, onde nada se movia sem que ele soubesse, face à presença opressiva dos seus serviços de inteligência. Na realidade, mais de 70% dos cubanos nasceram após a Revolução, assim, são poucos os que conheceram outros governantes além de Fidel e Raúl Castro. Isso explica o amálgama de sentimentos diante da sua morte e a inquietação de muitas pessoas na ilha.
O clã dos Castros
Se a Cuba socialista, a Revolução Cubana e a imagem de Fidel Casto conseguiram sobreviver ao colapso da União Soviética e do comunismo isso se deveu a uma jogada de gênio do próprio Fidel. Ao acolher Hugo Chávez sob o seu manto, conferir a ele a condição de líder da esquerda continental, a emergente Venezuela bolivariana se tornaria a salvaguarda e mentora do experimento cubano e permitiria, pelas mãos da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), colocar Cuba no centro da política latino-americana novamente.
O futuro de Cuba sem Fidel é incerto. Não é possível saber se sairão fortalecidos os setores reformistas ou os mais conservadores e resistentes às mudanças. Não sabemos como seu desaparecimento influenciará o futuro das reformas pretendidas por seu irmão, Raúl. O que é certo é que, sem Fidel Castro vivo, nada em Cuba continuará a ser como antes. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
* CARLOS MALAMUD É ANALISTA DO REAL INSTITUTO ELCANO, ESPANHA
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