''Não devemos ceder à paranoia'', diz educador

Mais de 150 mil vão às ruas em Oslo; a maioria defende tradição pacífica e tolerante da Noruega, mesmo após a tragédia

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Por Andrei Netto
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ENVIADO ESPECIAL / OSLOENTREVISTAJan Thore Mathisen, educador norueguêsA Noruega parou, ontem, para homenagear os mortos nos atentados de sexta-feira em Oslo e Utoya. Ao meio-dia, foi feito um minuto de silêncio no trânsito, na indústria e no comércio. A homenagem foi transmitida pela TV. No final da tarde, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em todo o país em uma caminhada pela paz.Convocada de forma espontânea nas redes sociais, a iniciativa reuniu somente em Oslo entre 150 mil e 200 mil pessoas, surpreendendo as autoridades que esperavam 30 mil. Entre os manifestantes estava o educador Jan Thore Mathisen, de 43 anos. Como muitos noruegueses entrevistados pelo Estado nos últimos dias, Mathisen defende a tradição pacífica e tolerante do país, mesmo após a tragédia promovida por Anders Berhing Breivik. Por que você decidiu ir a Oslo e visitar o local do atentado?Eu vivo em uma pequena cidade a 40 quilômetros daqui e achei importante vir, observar todo esse estrago, participar do minuto de silêncio, da caminhada dessa tarde. Foi a forma que encontrei de expressar meus sentimentos. Você pode chamar isso de terapia, se quiser.O que você pensa de Anders Breivik? Os noruegueses não pareciam acreditar que alguém assim vivesse nesse país...Não. E o que considero mais irreal, mas difícil de entender é como um único homem pode catalisar tanta ira, tanto ódio em relação a outras pessoas. É claro que há algo errado em seu comportamento e em sua formação psicológica.Surpreendeu-lhe ser um extremista cristão e de direita?O mais importante, na minha opinião, não é que o atentado tenha sido cometido por um católico. Ele é um fundamentalista. Esses ataques só me levam a crer que os fundamentalistas de fato não entendem os propósitos de suas religiões.Em 21 anos ele pode ser libertado. Você pensa que a lei deve ser alterada?Não, absolutamente. Não devemos defender leis mais duradouras por causa de um único caso. Não devemos ceder à pressão da paranoia e enchermos de policiais e de esquemas de segurança cada rua de nossas cidades. Nem precisamos de um código penal mais rigoroso. Essa tentação acabaria com o que temos de mais caro: a abertura e o espírito de solidariedade e tolerância.

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