'Não entendo por que tanto ódio', diz sobrevivente

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MOSCOUPara a russa Aina Agamalieva, o 29 de março de 2010 será lembrado como um dos momentos mais sombrios de sua vida. "Quando a bomba explodiu em Park Kultury, eu estava na estação, mas em outra linha. Ouvi o barulho e comecei a correr e chorar sem saber muito bem o motivo", disse Aina ao Estado, sem esconder as lágrimas. "Foi como nascer de novo. Não entendo o motivo de tanto ódio. No fim das contas, os inocentes pagam pelas disputas políticas", completou.O estudante Misha Vlasikhin também escapou por pouco. Ele tinha uma aula às 9 horas e deveria passar pela estação Park Kultury no horário exato do ataque, mas acabou se atrasando. No metrô, Vlasikhin só foi informado que a circulação na linha vermelha havia sido interrompida, mas não disseram o porquê do transtorno. "Quando ficamos sabendo o que havia acontecido, o pânico foi imediato", relatou o estudante. Ele decidiu ontem depositar flores na estação pela qual quase passou na hora errada.Mas nem todos tiveram a mesma sorte. "Meus amigos estavam indo para a universidade e a bomba explodiu na plataforma de Lubyanka", disse o malaio Alex Tan, amigo de três feridos, também da Malásia. Um deles "só sofreu uns arranhões", explica Tan. Os outros dois tiveram de ser submetidos a cirurgias. "Mas o pior ainda está por vir. Somos asiáticos e o clima na cidade é tenso", afirmou, temendo uma revitalizada onda de xenofobia.Após os atentados, o rigoroso controle da milítsia (polícia russa) em ruas e locais públicos foi reforçado. Caucasianos, negros e asiáticos eram os principais alvos das medidas de segurança. "É um lugar cheio de ódio. Só não vê quem não quer. Nosso governo precisa lutar contra os terroristas muçulmanos do Cáucaso", afirmava Marina Shramatilova, que se identificou como "eslava com muito orgulho". Os russos costumam chamar de tchernojopie ("nádegas negras", em tradução livre) os chechenos, armênios e pessoas da Ásia Central. "Os estrangeiros vão sofrer aqui o que nós, árabes, sofremos depois do 11 de Setembro", afirma a libanesa Salwa Abdultawab, de 30 anos, que desde 2005 mora na capital russa. / S. F.

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