Apenas três em 10 venezuelanos marcaram presença na eleição legislativa no país, boicotada pela oposição liderada por Juan Guaidó. Os apenas 31% dos eleitores presentes deram caminho para a vitória do chavismo, que retoma a maioria do Parlamento, numa votação contestada por pelo menos mais de 15 países, entre eles, o Brasil.
Para o analista Erik Del Bufalo, professor da Universidade Simon Bolívar, em Caracas, o triunfo do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), liderado pelo presidente Nicolás Maduro, é um reflexo de que as coisas seguirão como antes na Venezuela: com mais uma derrota para uma oposição desprestigiada e sem uma reação capaz de enfrentar o presidente.
O acadêmico vê em Juan Guaidó, líder da oposição e autoproclamado presidente da Venezuela, um personagem "triste" e incapaz de agir com o poder que teve em mãos. Para ele, a oposição precisa de caras novas e mudanças de estratégias.
O que podemos tirar das eleições do domingo?
Ontem não foi uma eleição verdadeira. A oposição real não se apresentou. Só se apresentaram figuras do chavismo.
A eleição deve ser feita a cada cinco anos pela constituição.Mas as instituições que fizeram não têm legitimidade. São eleições totalmente inauditáveis, tanto que se consideram fraudulentas. Assim é com a comunidade europeia e com outros países da América Latina, com a exceção de Cuba.
Faltou uma proposição de alternativa mais concisa da oposição?
Não há nada novo envolvido neste processo eleitoral. O regime continua com sua farsa, mas significa que, de alguma forma. Pode ser um momento para a oposição repensar a estratégia para os próximos tempos.
Lamentavelmente, por outro lado, a oposição não teve uma reação coerente. A sensação que hoje habita é que nada muda.
O que falta para a oposição venezuelana?
O problema da oposição é que há muita gente, não tem prestígio. Perderam cinco anos quando tiveram maioria absoluta na Assembleia Nacional e não fizeram nada. Portanto, perderam. Prometiam que iriam tirar Maduro cinco anos - essa promessa não se cumpriu e agora eles não têm nenhum prestígio. As ações que estão tomando são midiáticas. Não há ações concretas, eficazes, para tirar Maduro do poder.
É preciso uma mudança de atores e de estratégia. Os atores estão saturados, as pessoas não se identificam com a classe política da oposição e por isso há uma sensação de letargia.
E é preciso mudar a estratégia. É preciso maior colaboração e maior confrontação. Precisa saber articular o apoio nacional e o apoio das forças armadas. É impossível governar sem as forças armadas.
Por que esse ator não foi Guaidó?
Guaidó é um personagem pouco eficaz para mudar a situação, tem muito respaldo popular, mas sua técnica pessoal fracassou. É um personagem triste, que não soube fazer com o mandato que teve. Não soube organizar a oposição, não teve uma ação efetiva e veem como um segundo Leopoldo López [segundón de Leopoldo]. Não é como um líder em si mesmo.
Há um nome que possa despontar como esse novo ator?
Neste momento, não há nada. Mas pode aparecer num futuro breve. A oposição está desestruturada, sem orientação.