'Não nos curvaremos a ninguém, senão a Deus'

Na Síria, rebeldes enfrentam brutal repressão de Bashar Assad em Homs há 5 meses e prometem não abandonar a luta até a queda do regime

PUBLICIDADE

Por Anthony Shadid
Atualização:

THE NEW YORK TIMES / DAMASCOJá passava das 11 da manhã, e Abdullah finalmente estava acordando. A noite anterior tinha terminado tarde enquanto ele e seus amigos desafiavam e fugiam da temida mukhabarat, a polícia secreta síria, que nos últimos cinco meses vem se dedicando a esmagar a oposição em Homs. Com apenas algumas horas de sono, Abdullah levantou e começou a digitar os detalhes de suas ações no laptop. Os confrontos tinham sido violentos e duraram horas. "Não nos curvaremos a ninguém, senão a Deus", gritavam os manifestantes. A mukhabarat respondeu com gás lacrimogêneo, balas de efeito moral e balas comuns. Abdullah descreveu a situação como "terrível". Em se tratando de esconderijos, o quarto em que ele dormira era maravilhoso. Uma televisão de tela plana dividia o espaço na parede com versículos do Alcorão enquadrados, numa caligrafia inclinada e banhada a ouro. Havia colchões para cada os quatro homens, todos com mais de 20 anos, que dormiam cercados por seus smartphones e notebooks. Abdullah, engenheiro de computação de 26 anos e muçulmano fiel, é um homem procurado. Ele participou do primeiro protesto em Homs, em março, e desde então se destacou como um dos cerca de dez líderes da resistência jovem. Seus conhecimentos de tecnologia o tornaram um alvo da polícia, e este era o quinto lugar em que ele dormia no intervalo de uma semana. O jovem não volta para casa há dois meses. Abdullah leva no pescoço um pequeno pinguim de brinquedo que, na verdade, era um pen drive tratado como um talismã, pressionando-o às vezes para se certificar de que estava ali. Sentei-me ao lado dele no colchão e fiquei observando-o enquanto ele trocava mensagens com outros ativistas pelo Skype, depois atualizava uma página no Facebook usada como jornal clandestino, marcando em seguida no mapa de Homs no Google Earth os locais das manifestações mais recentes. "Se não tivermos acesso à internet", disse, "não há como viver". No frontABDULLAHENGENHEIRO DE COMPUTAÇÃO E REBELDE SÍRIO "Se não tivermos acesso à internet, não temos como viver"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.