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Não só o Iraque divide EUA e Alemanha, diz Kissinger

Por Agencia Estado
Atualização:

Os atritos entre os EUA e a Alemanha vão além do desacordo sobre uma guerra contra o Iraque e a oposição de Berlim ao unilateralismo de Washington, afirmou hoje o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger. Segundo o ex-secretário, uma voz muito ouvida e respeitada pelos políticos conservadores americanos, o fato de o primeiro-ministro Gerhard Schroeder ter conseguido evitar uma possível derrota nas recentes eleições alemãs valendo-se das críticas a Washington, em função da questão iraquiana, demonstra que "o antiamericanismo pode tornar-se uma tentação permanente na política alemã". O artigo de Kissinger coincide com a chegada a Washington, nesta quarta-feira, do ministro de Relações Exteriores alemão, Joschka Fischer, à frente de uma missão destinada a reparar as relações bilaterais. "O que tem a ver com antiamericanismo (o fato de) nós dizermos claramente que consideramos errado um conflito armado contra o Iraque?", afirmou Fischer ao jornal alemão de maior tiragem, o Bild, antes de embarcar para Washington, reiterando a oposição germânica a uma guerra contra Bagdá. No entanto, para Kissinger, que fugiu da Alemanha nazista e emigrou para os EUA nos anos 30, o gesto "dramático" do candidato Schroeder - de fazer da política "antiamericana" o argumento central de sua campanha, negar-se a enviar tropas alemãs a uma eventual ação contra o Iraque e rejeitar o uso das bases de seu país em território da Otan, mesmo que a ONU aprove a invasão do território iraquiano - faz parte de um perigoso fenômeno. Parece tratar-se, adverte Kissinger, de um sinal que remonta a inquietantes precedentes históricos, uma tentativa de Berlim de refazer sua independência política e até desafiar os pilares da política alemã do pós-guerra: a unidade européia e a Aliança Atlântica. Kissinger propõe uma aproximação diplomática americana "criativa", tendente a manter de pé as relações com a Alemanha, que define como um país "demasiado importante, tanto dentro da Otan como da Europa, para que se permita uma política baseada em recriminações".

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