Negativa do Irã abre caminho para possíveis sanções

Na crise nuclear iraniana é um prazo atrás do outro

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Um prazo final nem sempre é o fim da história. Apesar de todo drama e das implicações na crise nuclear iraniana, o término na quinta-feira do prazo dado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para o regime de Teerã suspender o enriquecimento de urânio foi o anticlímax. Como lembra Anthony Cordesman, do Center for Strategic and International Studies, em Washington, na crise nuclear iraniana é um prazo atrás do outro. Havia meses, o Irã apregoava que não iria suspender o enriquecimento de urânio até 31 de agosto, insistindo no seu direito à tecnologia nuclear. O desafio parece que se tornou a pedra de toque do governo de Mahmoud Ahmadinejad, que insiste que seu programa nuclear tem propósitos pacificos, em meio à suspeita mundial de que irá desembocar na bomba. Pelo roteiro diplomático das Nações Unidas, o desafio de Teerã abre o caminho para possíveis sanções, mas o movimento para punições é travado pela contínua resistência de Rüssia e China - paises com poder de veto no Conselho de Segurança e com profundos interesses economicos no Irã - e pela contínua disposição de países europeus de conversar com Teerã. Um prazo, afinal, é apenas um prazo. Para o governo Bush, mais à vontade com a retórica categórica, é complicado caminhar neste terreno sinuoso. Esta é uma crise que atola nas ambigüidades. O relatório (mais um) da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), divulgado na quinta-feira, confirmou que o Irã estava enriquecendo pequenas quantidades de urânio, sem acelerar o processo, com qualidade mais compatível para usinas nucleares e não armas. Ademais, face ao limitado acesso de inspetores, a AIEA não pôde verificar as garantias do Irã de que desenvolve um programa nuclear pacífico. Sanções? Tudo soa relativo. Existe o fato absoluto do não-acatamento iraniano do prazo das Nações Unidas. Mas, em meio ao desafio escancarado, o país não quer fechar as portas diplomáticas. Precisar agir assim para ter margem de manobra e dividir a comunidade internacional. Já para os EUA, é difícil saber qual porta abrir, qual porta fechar. Existem as supostas garantias russas e chinesas de que em um certo momento ambos irão endossar sanções, mas por ora punições são consideradas prematuras. E a única maneira de manter viva a precária coalizão internacional é descartar sanções da pesada. E, a rigor, apesar da conversa da pesada dos americanos, existem efetivamente poucas opções para fazer Teerã recuar. A arma mais persuasiva, além de uma guerra, são sanções contra o setor energético iraniano. Mas tal opção, contra um país privilegiado por suas reservas de petróleo e gás natural, é extremamente improvável com um mercado internacional sedento por energia. O ministro da Energia dos EUA, Sam Boadman, bravateou que conter a ambição nuclear iraniana é mais importante do que o preço do barril do petroleo. Melhor ficar com a avaliação de Jeffrey Schott, do Institute for International Economics, em Washington. Em depoimento no Congresso americano, ele destacou que "amplas sanções econômicas contra o Irã são inviáveis. Muitos americanos iriam questionar medidas duras que colocariam o preço do barril acima de cem dólares e deflagrariam uma recessão mundial." Impacientes com as ambigüidades e o terreno sinuoso nas Nações Unidas, autoridades do governo Bush disseram ao jornal Los Angeles Times que a solução talvez seja formar uma coalizão independente para congelar os bens iranianos e restringir o comércio diante do empenho do regime de Teerã para ignorar o prazo para suspender o enriquecimento de urânio. Mas tal estratégia reflete não apenas frustração com as complexidades da crise, como também a fraqueza da posição internacional do governo Bush, desgastado com as várias crises no Oriente Mëdio. Existe uma relutância generalizada para seguir os EUA na guerra ou na diplomacia. A solução talvez seja caminhar de um prazo final para outro. include $_SERVER["DOCUMENT_ROOT"]."/ext/selos/bbc.inc"; ?>

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.