
25 de agosto de 2020 | 18h35
KENOSHA - O advogado da família de Jacob Blake, o jovem negro baleado à queima-roupa pela polícia no domingo na frente dos três filhos, informou nesta terça-feira, 25, que ele está paralisado da cintura para baixo e "somente um milagre poderá fazê-lo andar de novo".
Em uma entrevista coletiva, Benjamin Crump, falando ao lado de alguns membros da família de Blake, disse que o rapaz, de 29 anos, foi submetido a uma cirurgia hoje. Ele foi atingido por ao menos três dos sete disparos de um policial na cidade de Kenosha, no Estado americano de Wisconsin.
"Eles atiraram contra o meu filho sete vezes, sete vezes, como se ele não importasse", disse o pai do rapaz, também chamado Jacob Blake. "Mas meu filho importa. Ele é um ser humano e sua vida importa."
Outro advogado da família disse que entraria com uma ação civil contra o departamento de polícia pela ação. Dois policiais foram suspensos e foi aberta uma investigação. O departamento deu poucas informações sobre o que aconteceu, exceto que estava respondendo a um chamado sobre uma disputa doméstica. O Departamento de Justiça de Wisconsin está investigando o caso.
A revolta retornou às ruas dos EUA com milhares de pessoas em várias cidades exigindo justiça para Blake. Manifestantes antirracismo e contra a violência policial se reuniram sob o lema: “Sem justiça, sem paz”.
Assim como ocorreu quando um policial branco asfixiou até a morte outro homem negro, George Floyd, em maio, a tentativa de detenção de Blake em Kenosha, Wisconsin, também foi filmada por uma testemunha.
As imagens, registradas com um telefone celular, mostram Blake, um pai de família, sendo perseguido por dois policiais, que atiram nele à queima-roupa, pelas costas, enquanto entrava em seu carro, no qual estavam seus três filhos. Um policial o pega pela camiseta quando ele abre a porta do carro e tenta abordá-lo. O agente atira – na gravação são ouvidos sete disparos – e o fere gravemente pelas costas.
“O que justifica esses tiros? O que justifica fazê-lo na frente dos meus netos?!”, revoltou-se o pai da vítima em declarações ao jornal Chicago Sun Times. O hospital informou que ele estava em condições estáveis.
Herman Poster, primo da vítima, declarou ao site The Daily Beast que Jacob Blake voltou a ser submetido a uma cirurgia na manhã de hoje. “Os médicos tentam fazer alguns nervos reagirem”, afirmou.
Crump disse ter sido informado que Blake estava tentando intervir em uma discussão entre duas mulheres quando a polícia chegou.
Milhares de pessoas se reuniram hoje pacificamente diante de um tribunal de Kenosha, cidade de 170 mil habitantes às margens do lago Michigan. Mas uma hora depois de iniciado o toque de recolher, os ânimos contra a polícia se exaltaram.
Manifestantes atiraram garrafas e dispararam fogos de artifício contra os agentes e incendiaram um carro e um imóvel. A polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e projéteis.
Em Minneapolis, onde a morte de Floyd, em 25 de maio, desatou uma mobilização nacional contra o racismo, manifestantes queimaram uma bandeira dos EUA. Pelo menos 11 pessoas foram presas no centro da cidade, em frente ao Centro de Detenção de Adultos do Condado de Hennepin, depois que as autoridades disseram que os manifestantes começaram a destruir propriedades públicas.
Em Nova York, centenas de pessoas marcharam pacificamente na 5.ª Avenida. Em Portland (Oregon), onde desde a morte de Floyd as marchas são quase diárias, os manifestantes repetiram em coro o nome de Jacob Blake. Também foram registrados protestos em Los Angeles, Washington e Seatle.
O presidente Donald Trump ainda não comentou o incidente. Já o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, disse que o racismo é “uma crise de saúde pública” e exigiu uma investigação aprofundada sobre o caso. / NYT, AP e AFP
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