Netanyahu faz pacto improvável com Barak

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Por Gilles Lapouge
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Benyamin Netanya-hu, líder do partido de direita Likud, poderá formar o novo governo de Israel graças ao apoio dos trabalhistas. Estes receberão cinco pastas. O líder dos trabalhistas, Ehud Barak, deve conservar o Ministério da Defesa, que já ocupava no governo atual. Netanyahu pagou um alto preço pelo apoio dos trabalhistas. É surpreendente. Esse partido não passa de uma sombra do que era. Embora esteja na origem do Estado de Israel, não parou de encolher. Em 1992, tinha 44 deputados. Em 2003, 18. Em 2009, 13. Por que Netanyahu sacrificou tanto para encaixar os trabalhistas na sua equipe? Netanyahu, não dispondo de maioria absoluta, foi obrigado a se aliar a outros partidos. Quais partidos? Primeiro, seus aliados naturais, isto é, a direita: o partido Israel Beiteinu, dirigido por Avigdor Lieberman, antigo leão de chácara de boate que prega um ultranacionalismo sem peias. Outro aliado: o partido religioso Shas, nada flexível e nada tolerante. Netanyahu não queria se ver confinado a um colóquio singular com essas duas agremiações. Assim, procurou contrabalançar seus aliados de direita com representantes da esquerda. Inicialmente, tentou seduzir o centrista Kadima, dirigido pela chanceler Tzipi Livni. Mas o Kadima recusou a oferta. Para evitar ficar refém dos dois partidos de extrema direita, a única solução foi seduzir os trabalhistas. Netanyahu se empenhou nisso - e conseguiu. Mas outra questão se coloca: por que Ehud Barak aceitou sustentar o governo de direita? Barak terá desejado simplesmente salvar a própria carreira política, bastante comprometida após o fracasso de seu partido nas eleições e após a guerra de Gaza, pela qual era o responsável? Ou quis ajudar Netanyahu a resistir às cobranças dos aliados da extrema direita? A pergunta nos leva a outro questionamento, igualmente importante: por que o líder do Likud tem medo de seus próprios aliados? Quando dirigiu Israel, há 10 anos, Netanyahu seguiu uma linha ultranacionalista muito próxima da preconizada hoje por Lieberman. Mas, de lá para cá, alguma coisa mudou. Ao menos em Washington. Tudo leva a crer que o presidente americano, Barack Obama, será menos indulgente com as exigências de Israel. Obama defende firmemente a existência de um Estado palestino, perspectiva que revolta a direita israelense. Muitos problemas à vista, portanto, para Netanyahu. Com uma sombra a mais: as revelações que pesam sobre o comportamento do Exército israelense durante a guerra de Gaza. Essa guerra que durou três semanas, entre 27 de dezembro e 19 de janeiro, deixou 1.315 palestinos mortos, 1.200 deles civis, segundo o Hamas. O Exército israelense desmente: foram apenas 300 civis mortos. Mas nos últimos dias multiplicaram-se testemunhos estarrecedores. Estarrecedores porque vêm dos próprios soldados israelenses, desgostosos do que fizeram e viram: uma mãe palestina abatida com seus dois filhos por um atirador de elite israelense, uma senhora assassinada friamente, etc. As acusações são corroboradas pelas ONGs e por dois relatórios oficiais da ONU. Richard Falk, observador da ONU nos territórios ocupados, escreveu que há razões para crer que a ofensiva em Gaza constituiu "um crime de guerra de grande magnitude." São esses dossiês que Netanyahu vai encontrar sobre sua nova escrivaninha. Para piorar, o novo chanceler deve ser precisamente o ultranacionalista Lieberman. O chefe dos trabalhistas, Ehud Barak, estará à altura de reequilibrar a linha do novo gabinete e lhe dar um pouco de flexibilidade? "Acreditar nisso é como colocar um ganso de borracha para fazer frente a uma manada de elefantes", publicou o diário israelense Maariv. * Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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