Netanyahu legaliza assentamento judaico na Cisjordânia a dois dias das eleições

Premiê de Israel utiliza-se do discurso de segurança e soberania nacional para atrair eleitores nacionalistas favoráveis à anexação da Cisjordânia

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Por Redação
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JERUSALÉM - O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, convocou neste domingo, 15, sua última reunião do conselho antes das eleições da próxima terça-feira no Vale do Jordão, Cisjordânia, e anunciou a legalização de um assentamento judaico no local, em uma última tentativa de consolidar sua base de eleitores nacionalista e conservadora.

Netanyahu tem participado de diversas aparições na mídia para convencer apoiadores a comparecerem na eleição, a fim de impedir a vitória de um novo governo que, segundo ele, vai ameaçar a segurança nacional.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, recebe presente de crianças judias residentes do Vale do Jordão, na Cisjordânia,após reunião que decidiu pela legalização de assentamento a dois dias da eleição Foto: Amir Cohen/EFE/EPA/Pool

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Um ponto central da sua agenda de última hora tem sido a promessa de estender a soberania de Israel sobre o Vale do Jordão e anexar colônias judaicas, feita na última terça-feira, 10, exatamente uma semana antes da eleição.

A região representa 30% da Cisjordânia, e é considerada um ponto crucial para que se alcance um acordo de paz. 

A prática foi evitada por Netanyahu durante seu mandato que já dura mais de uma década. A situação é diferente agora, na segunda eleição do ano, já que após ter sido eleito em abril, não conseguiu formar governo. 

As pesquisas de opinião apontam o premiê, do partido Likud, praticamente empatado com seu principal opositor, o ex-chefe do Estado Maior do Exército, general Benny Gantz, líder do Azul e Branco.

No último dia oficial da campanha, já que os candidatos não podem organizar comícios na segunda-feira, véspera da eleição, Netanyahu tirou um coelho da cartola, durante seu conselho de ministros, realizado excepcionalmente nesta fértil área.

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Israel decidiu "transformar a colônia selvagem de Mevoot Jericó, situada no Vale do Jordão, em uma oficial", informou o gabinete de Netanyahu.

O Vale do Jordão é "um muro de defesa que será parte integrante de Israel (..) e que vai assegurar a presença eterna das nossas Forças Armadas", afirmou Netanyahu.

A Autoridade Palestina condenou a realização da reunião do gabinete ministerial nos Territórios ocupados e, sem mencionar a colônia diretamente, pediu à comunidade internacional que faça pressão sobre Israel, um governo que "mina todos os fundamentos do processo político (de paz)".

"O governo segue dando provas de seu desprezo pela solução com dois Estados", afirmou a ONG israelense Peace Now.

Em um comunicado, a Procuradoria Geral de Israel confirmou que, apesar do contexto eleitoral, o governo tem a autoridade para tomar esta decisão sensível.

A influência de Trump

Netanyahu também age sob o aval do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No sábado à noite, Trump deu seu apoio à campanha de reeleição de Netanyahu, revelando suas conversas sobre um tratado de "defesa mútua" entre Israel e EUA, o qual ele espera poder continuar depois da votação.

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Apesar do presidente americano não ter comentado a promessa feita por Netanyahu para anexar parte da Cisjordânia, o premiê israelense associou o plano de paz para o Oriente Médio de Trump, que deve ser divulgado em breve, à maiores possibilidades de anexação. 

Em uma carta aberta a um jornal local, Netanyahu disse que as condições "amadureceram" para que se aplique soberania a todos os "assentamentos e áreas de importância estratégia e nacional". 

A colônia Mevoot Jericó fica perto de Jericó, a principal cidade palestina deste vale estratégico e coração da indústria agrícola, ao norte do Mar Morto.

Embora seja favorável à anexação, uma parte da classe israelense considerou que o anúncio da semana passada foi feito com fins eleitorais, já que a promessa de anexação foi feita sob a condição de que ele fosse reeleito. / AFP e AP

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