New York Times critica discurso de Bento XVI em editorial

Durante sua fala, Joseph Ratzinger atacou a idéia da jihad (guerra santa), um conceito fundamental para o islamismo

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Por Agencia Estado
Atualização:

O diário americano The New York Times publicou neste sábado um editorial em que critica as palavras proferidas pelo papa Bento XVI em um discurso feito na terça-feira em uma universidade alemã. Durante sua fala, Joseph Ratzinger atacou a idéia da jihad (guerra santa), um conceito fundamental para o islamismo. O pronunciamento gerou indignação no mundo islâmico. Leia a íntegra do editorial: As palavras do Papa Já existe ódio religioso de sobra no mundo. Por isso é particularmente inquietante que o Papa Bento XVI tenha insultado muçulmanos citando uma descrição do século 14 do Islã como ?cruel e desumano.? Na parte mais provocativa de um discurso feito durante a semana sobre ?fé e razão?, o pontífice relatou uma conversa entre um imperador cristão bizantino ?erudito? e um persa muçulmano ?instruído? por volta de 1391. O papa citou o imperador dizendo, ?Mostrai-me o que Maomé trouxe de novo, e ali encontrarás somente coisas cruéis e desumanas, como a ordem para espalhar a fé pela espada que pregou.? Líderes muçulmanos de todo o mundo cobraram desculpas e ameaçaram chamar seus embaixadores do Vaticano, advertindo que as palavras do papa reforçam perigosamente uma visão falsa e deturpada do Islã. Para muitos muçulmanos, a guerra santa - jihad - é uma luta espiritual e não um apelo à violência. E eles denunciam sua perversão por extremistas, que usam a jihad para justificar o assassinato e o terrorismo. O Vaticano divulgou uma declaração dizendo que Bento não pretendia ofender e, na verdade, desejava o diálogo. Mas esta não é a primeira vez que o papa fomentou a discórdia entre cristãos e muçulmanos. Em 2004, quando ainda era o principal teólogo do Vaticano, ele se pronunciou contra a entrada da Turquia na União Européia, porque a Turquia, como um país muçulmano, estava ?em permanente contraste com a Europa.? Um conservador doutrinário, seu maior medo parece ser a perda de uma identidade católica uniforme, o que não é exatamente o melhor ponto de partida para a tolerância ou o diálogo entre credos. O mundo ouve atentamente as palavras de qualquer papa. E é trágico e perigoso quando um semeia dor, seja por descuido ou deliberação. Ele precisa oferecer um pedido de desculpas profundo e persuasivo, demonstrando que palavras também podem curar.

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