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Nexo com Rússia causa demissão no alto escalão e ameaça atingir Trump

Michael Flynn, chefe do Conselho de Segurança Nacional, deixa governo após suspeitas de que ele conversou com o embaixador russo sobre sanções a Moscou antes da posse; senadores pedem investigação sobre laços da Casa Branca com o Kremlin

Por Cláudia Trevisan - Correspondente e Washington 
Atualização:

A demissão do chefe do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca menos de um mês após sua posse deu fôlego aos questionamentos sobre a relação do governo Donald Trump com a Rússia e aumentou a pressão de senadores democratas e republicanos para abertura de investigações sobre o assunto.

Michael Flynn (E) e Donald Trump na base aérea de MacDill, Flórida Foto: AFP PHOTO / MANDEL NGAN

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Michael Flynn foi obrigado a pedir demissão na noite de segunda-feira, 18 dias depois de o Departamento de Justiça ter informado à Casa Branca que ele poderia estar vulnerável a chantagem de Moscou por ter mentido sobre o teor de uma conversa telefônica que teve com o embaixador russo em Washington, em dezembro. 

Sean Spicer, porta-voz de Trump, disse ontem que o presidente foi comunicado de maneira imediata da suspeita. Ainda assim, Flynn continuou a participar dos encontros diários do Conselho de Segurança Nacional, durante os quais são discutidos uma série de temas confidenciais. Segundo Spicer, assessores jurídicos da Casa Branca concluíram que a ação de Flynn não foi “ilegal” ou “imprópria” – a saída teria sido motivada pela quebra de confiança pelo relato incompleto do telefonema. 

A conversa foi grampeada pelo FBI e seu teor era diferente do que Flynn havia admitido – inicialmente, ele negou ter debatido com o embaixador as sanções impostas à Rússia em dezembro por Barack Obama, punição decidida após o surgimento de indícios de interferência russa na eleição americana de novembro. Dias depois, Flynn mudou sua versão e disse que não podia dizer com certeza que o assunto não havia sido abordado.

O telefonema foi interpretado como uma tentativa de Flynn de tranquilizar a Rússia sobre as sanções, mas não está claro se ele sugeriu de maneira explícita que as penalidades poderiam ser retiradas quando Trump tomasse posse. 

Contágio. O cientista político Kyle Kondik, da Universidade da Virgínia, avaliou que a saída de Flynn não acaba com as dúvidas sobre o relacionamento da Casa Branca com Moscou. “Há uma série de questões não respondidas. Entre elas, as mais importantes são: Flynn agiu sob ordens de Trump quando falou com o embaixador? Que tipo de promessas fez?”

Na opinião do analista, a queda do chefe do Conselho de Segurança Nacional é sinal do caos que permeia a gestão, marcada por disputas internas e falta de pessoas com experiência administrativa. Flynn bateu o recorde de menor tempo de permanência na função cuja responsabilidade é orientar o presidente sobre política externa e segurança nacional. Em média, os chefes do conselho ficam no cargo por dois anos e meio. 

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Pelo Twitter, Flynn alimentou a especulação de que pode não ter agido sozinho. Ele disse que aceitava a responsabilidade, mas considerava “injusto” ser o “único bode expiatório” para o que aconteceu.

Senadores de ambos os partidos defenderam que Flynn seja convocado para depor sob juramento no Congresso. Trump disse que a “verdadeira história” são os vazamentos de informação por integrantes de seu governo. Apesar de o presidente ter sido comunicado no dia 26 das suspeitas em relação a Flynn, sua demissão só ocorreu depois que elas foram reveladas pelo Washington Post.

Hoje, o porta-voz da Casa Branca disse que o presidente pretende manter as sanções contra a Rússia e espera que o país “devolva” a Crimeia à Ucrânia. O território foi anexado por Moscou em 2014, o que levou à imposição das primeiras sanções pelo governo Obama.

Flynn é o terceiro assessor a se afastar de Trump em razão de vínculos com Moscou. Paul Manafort deixou o cargo de chefe de sua campanha quando a imprensa revelou sua atuação em favor de grupos pró-Rússia dentro da Ucrânia. Assessor de política externa, Carter Page abandonou a campanha em setembro, quando a imprensa divulgou que a CIA investigava seus laços com Moscou.

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