STEPANAKERT, AZERBAIJÃO - O conflito entre Armênia e Azerbaijão pelo controle da região do Nagorno-Karabakh, próximo a fronteira entre os dois países, chega ao 10º dia nesta terça-feira, 6, sob denúncias de uso de armas proibidas e apelos da comunidade internacional. Entre pedidos de trégua e conclamações de apoio, o confronto segue, com baixas confirmadas pelos dois lados.
A ONG Anistia Internacional denunciou nesta terça-feira o uso de bombas de fragmentação de fabricação israelense em Stepanakert, capital de Nagorno-Karabakh. Os artefatos, que se abrem no ar e despejam uma série de projéteis, são proibidas desde 2010 por uma convenção internacional.
Especialistas "conseguiram localizar as áreas residenciais de Stepanakert, onde essas imagens foram tiradas, e identificaram munições de fragmentação M095 DPICM de fabricação israelense, que parecem ter sido disparadas por forças azeris", disse a AI. Israel é um grande fornecedor de armas para o Azerbaijão.
"O uso de munições de fragmentação é proibido em todas as circunstâncias pelo Direito Internacional Humanitário", ressaltou o diretor para o Leste Europeu e Ásia Central da Anistia, Denis Krivosheev, citado em comunicado à imprensa.
A denúncia da ONG vem em meio a uma troca de acusações entre Baku e Erevan. Os dois lados do conflito afirmam que os opositores aumentaram deliberadamente os bombardeios em áreas urbanas habitadas, em particular na capital da região separatista, Stepanakert, e na segunda cidade do Azerbaijão, Gandja.
As baixas militares também continuam a ocorrer, apesar de nenhum dos lados ter conquistado, aparentemente, uma vantagem decisiva sobre o outro. O balanço de 286 mortos desde o início do conflito permanece parcial, mas os dois lados dizem ter matado de 2.000 a 3.500 soldados inimigos e rejeitam a responsabilidade pelas hostilidades.
Nesta terça, o porta-voz do Exército armênio anunciou que 21 combatentes de Karabakh foram mortos nesta terça. Em um comunicado matinal, o Ministério da Defesa do Azerbaijão afirmou ter infligido "pesadas perdas de vidas e equipamentos militares" ao adversário e "forçado-o a se retirar". O presidente da autoproclamada República de Karabakh, Arayik Haroutiounian, assegurou, porém, que seu Exército "cumpriu com sucesso suas tarefas", acrescentando que "está tudo sob controle".
O Azerbaijão, que não anuncia as baixas entre seus soldados, menciona a morte de 46 civis, enquanto Karabakh relatou que 240 soldados e 19 civis perderam a vida.
Imbróglio internacional
As hostilidades entre os dois países e os separatistas não tem diminuído, mesmo com a pressão da comunidade internacional. O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliev, cujo país rico em petróleo gastou abundantemente em armamentos modernos nos últimos anos, prometeu retomar Karabakh. Ele descartou uma trégua sem a retirada militar armênia da região e sem um pedido de "desculpas" do primeiro-ministro armênio, Nikol Pachinian.
Erevan e Baku até agora ignoraram os apelos por um cessar-fogo da comunidade internacional, incluindo da Rússia, a potência regional. O Azerbaijão conta, porém, com o apoio inequívoco do turco Recep Tayyip Erdogan.
Contra a maré da comunidade internacional, o chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, em visita a Baku nesta terça-feira, pediu "apoio" ao Azerbaijão. Ele questionou abertamente a utilidade de um cessar-fogo: "O que acontecerá depois, a Armênia vai se retirar imediatamente dos territórios do Azerbaijão?".
Esta visita ocorre depois que Paris, Moscou e Washington, mediadores deste conflito desde os anos 1990, descreveram a crise como "uma ameaça inaceitável à estabilidade da região". Uma escalada pode ter consequências imprevisíveis, dado o número de potências concorrentes no Cáucaso: Rússia, Turquia, Irã e os países ocidentais.
A Turquia é acusada de agravar o conflito, ao encorajar Baku a partir para uma ofensiva militar, e é suspeita de ter enviado mercenários sírios para Karabakh. Dezenas deles teriam sido mortos.
Embora a Rússia mantenha boas relações com os dois países, continua mais próxima da Armênia, que pertence a uma aliança militar dominada por Moscou.
O presidente russo, Vladimir Putin, voltou a pedir, na noite de segunda-feira, o fim "imediato" dos combates, durante uma conversa com o líder armênio./ AFP