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No ápice de crise, Ucrânia tem dezenas de mortos por franco-atiradores

Atiradores de elite espalham o terror pelas ruas de Kiev - pelo menos 47 morreram; governo afirma que ativistas prenderam 67 policiais

Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna e Kiev
Atualização:

(Atualizada às 23h05)

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KIEV - No dia mais violento desde o início em novembro dos protestos na Ucrânia, ao menos 47 pessoas morreram na quinta-feira, 20, em Kiev. Centenas ficaram feridas. Pela primeira vez, franco-atiradores dispararam do topo de edifícios contra os manifestantes, e ao menos 20 deles apresentavam orifícios na cabeça e pescoço, causados por balas de fuzis.

A violência começou logo cedo, quando os manifestantes avançaram contra a polícia, para recuperar áreas da Praça da Independência, no centro de Kiev. Como parte de um acordo de anistia no início da semana, a polícia havia ocupado essas áreas.

Armados com tijolos arrancados das calçadas e coquetéis molotov, os manifestantes enfrentaram a tropa de choque, que reagiu com balas de borracha e munição real, ao mesmo tempo em que os franco-atiradores abriam fogo. Pilhas de pneus foram incendiadas, criando uma fumaça espessa, que ajudava a proteger os manifestantes. Depois de três horas de batalha, os policiais recuaram.

Os manifestantes, que exigem a saída do presidente Viktor Yanukovich, depois que ele cedeu a pressões da Rússia e recuou em um acordo comercial com a União Europeia, ocuparam vários edifícios, incluindo a Sala de Concertos de Kiev, um palacete branco estrategicamente situado sobre uma colina ao lado da praça.

Assim como o Hotel Europa e uma agência bancária ao redor da praça, a Sala de Concertos foi convertida em hospital de campanha, com médicos voluntários. Eles deixaram de ser levados para hospitais comuns, porque estavam sendo retirados por agentes do regime.

Dezenas de policiais foram capturados pelos manifestantes - 67, segundo o governo - e arrastados para uma fortificação improvisada com paus e tábuas, no meio da praça. Enquanto os policiais eram levados à força, manifestantes os xingavam.

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O padre ortodoxo Nikolai Givailo acompanhava o grupo, pedindo que não agredisse os policiais. Os jornalistas são impedidos de entrar nesse local, que serve de QG de segurança dos manifestantes. De acordo com o Ministério de Saúde, 47 pessoas foram mortas na quinta-feira, o que eleva a 75 o número de mortos nos últimos três dias, quando houve a escalada da violência.

Barricadas

De noite, apesar do frio de 3 graus centígrados, mais gente chegava do que saía da praça. Não só jovens, mas também homens e mulheres com mais de 50 anos. Muitos deles arrancavam ladrilhos das calçadas, transportados de mão em mão, até novas barricadas na linha de frente.

Os ladrilhos podem ser usados contra a polícia. Dezenas de pneus eram levados para essa área também, para formar barricadas em chamas. Outros manifestantes alinhavam garrafas de cerveja e de refrigerantes vazias, para encher de gasolina e usar como coquetéis molotov.

Muitos voluntários distribuem sanduíches de graça para os manifestantes. Outros chegam com extintores de incêndio, que também são reunidos em alguns pontos da praça, para debelar incêndios, caso a polícia volte a invadir e a queimar as tendas espalhadas.

No palanque no qual muitos militantes se alternam fazendo discursos nacionalistas contra o domínio russo na Ucrânia, havia imagens de Jesus Cristo, de santos e uma estátua da Virgem Maria.

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