No Brasil, María Corina critica Maduro e pede fim de 'indiferença' de Dilma

No Senado, deputada cassada afirma que o governo venezuelano desrespeita a Constituição e diz que pretende falar com Dilma de ‘perseguida para perseguida’

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Por Lisandra Paraguassu e Brasília
Atualização:

BRASÍLIA - Uma das principais líderes da oposição venezuelana, a deputada María Corina Machado cobrou na quarta-feira, 2, posição mais firme do Brasil em relação à crise em seu país e questionou a legitimidade da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) como mediadora entre governo e oposição.

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A parlamentar, que teve o mandato cassado nos últimos dias, veio ao Brasil a convite da Comissão de Relações Exteriores do Senado e ouviu elogios e perguntas simpáticas, mas também teve de enfrentar questões ásperas, especialmente de legisladores de esquerda.

"Nossos Estados são signatários da Carta Democrática Interamericana. Para os venezuelanos é incompreensível que tenham sido tão ativos no Paraguai e em Honduras e hoje nos virem as costas. O que tem de acontecer na Venezuela para que os democratas do hemisfério ouçam nossa voz?", disse a venezuelana. A tentativa de mediação pela Unasul também foi atacada pela deputada. María Corina alega que, antes mesmo de visitar a Venezuela, alguns chanceleres da região qualificaram a crise no país como "circo" e "show". "A Unasul tem um problema sério de legitimidade. Não é um mediador objetivo e imparcial", afirmou.

Após quatro horas de audiência pública, em uma entrevista, a deputada foi questionada se esperava uma posição mais ativa da presidente Dilma Rousseff. María Corina afirmou que essa era uma questão "particularmente sensível". "Quando tiver oportunidade não falarei como política, mas de mãe para mãe, de perseguida a perseguida. Esperamos que todos os líderes que sofreram perseguição tenham solidariedade, uma empatia maior com o que estamos vivendo na Venezuela. Não é possível manter uma posição de indiferença e ignorância", afirmou.

Durante a audiência, a deputada foi questionada pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que chegou a dizer que um vídeo de três minutos sobre a crise na Venezuela era "uma montagem que até uma criança poderia ver". Vanessa ainda cobrou a decisão da Mesa da Unidade Democrática (MUD), o grupo que reúne a oposição, de não participar de uma negociação de paz chamada por Maduro. A parlamentar alegou que em outras tentativas o governo não cumpriu os acordos e até agora não cumpriu algumas exigências, como o controle de milícias chavistas.

Já o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) afirmou que não aceitava movimentos que pediam a saída de presidentes eleitos. "Isso é contra a ordem democrática. O presidente da Venezuela foi eleito, mesmo que por pequena margem", afirmou. "A legitimidade de um governo tem muito a ver com como se obtém o poder, mas também como se exerce", alegou María Corina. "Somos 100% contra um golpe, mas como se faz se o golpe vem do próprio Estado? O governo do sr. Maduro desrespeita a Constituição. A esse tipo de golpe não há o repudio por parte de governos deste hemisfério."

Apesar das críticas, a parlamentar venezuelana ouviu mais manifestações de apoio do que recriminações. Candidato à presidência, o senador Aécio Neves foi à comissão cumprimentá-la. Para ele, o governo venezuelano "tem demonstrado muito pouco apreço pelas liberdades e diretos". "Espero que num futuro breve possa visitar a Venezuela, quem sabe em outra condição e possa ser recebido por vossa excelência na Assembleia Nacional, no seu legítimo direito", completou.

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Logo ao começar sua fala, a deputada teve de enfrentar um coro de "Corina, golpista", de um grupo ligado aos sem-terra - o mesmo que chegou a cercá-la ao sair do aeroporto.

 



 

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