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No Brasil, nos EUA e na China, Argentina manda mensagem de mudança

Novos embaixadores em países-chave têm um perfil mais conciliador do que os seus antecessores

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Por Redação
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BUENOS AIRES - Alberto Fernández ainda está montando sua equipe de governo e indicando embaixadores. Mas três casos são um exemplo da nova diplomacia pós-Cristina Kirchner: os escolhidos do presidente para ocupar os postos em Brasília, Washington e Pequim.

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No caso do Brasil, Fernández decidiu enviar o ex-vice-presidente e ex-governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, desafeto de Cristina por muitos anos e escanteado dentro do kirchnerismo. Embora não venha da carreira diplomática, ele tem experiência política, não tem vocação ideológica e está perto do poder.

Para os EUA, a Casa Rosada inovou com a indicação de um “superembaixador”. Além do posto na embaixada, Jorge Argüello será uma espécie de coordenador de todas as delegações argentinas: OEA, FMI, Banco Mundial e BID. Argüello foi embaixador na ONU, é amigo pessoal de Fernandez e tem um perfil diferente de Héctor Timerman, escolhido por Cristina na época por sua retórica ideológica e de confronto.

Daniel Scioli, embaixador da Argentina no Brasil, durante entrevista no Consulado Argentino emSãoPaulo. Foto: HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO

O cargo em Pequim foi definido após uma disputa entre as duas alas do kirchnerismo. Os radicais apostavam em Sabino Vaca Narvaja, que perdeu a queda de braço para um diplomata de carreira, Luis Kreckler, ex-embaixador no Brasil, de perfil mais profissional e um aceno aos funcionários do Palácio de San Martín.

Ao Estado, diplomatas do alto escalão do governo, que pediram anonimato em razão da delicada renegociação da dívida, disseram que a necessidade de manter um boa relação com as grandes potências aproximam a política externa do ex-presidente Mauricio Macri com a de Fernández. “O governo precisará de simpatia e paciência”, diz um diplomata que ocupou alto posto no governo anterior.

A relação entre funcionários dos dois governos – Macri e Fernández – é melhor do que se imaginava. Fontes da Casa Rosada disseram ao Estado que Fernández chegou a perguntar à ex-chanceler Susana Malcorra como responder os desaforos de Bolsonaro.

“O conselho que ele recebeu foi o que ele acabou fazendo: baixar o tom e não responder”, disse um diplomata ligado ao presidente. Segundo José Perego, do centro de estudos latino-americanos do Conselho Argentino de Relações Internacionais (Cari), as dificuldades econômicas devem conter a agressividade na relação entre os dois países. “Existe uma linha coerente de pragmatismo de Argentina e Brasil. A circunstância econômica obriga o governo argentino a buscar consenso, e não conflito”, disse. “A agenda negativa, sem nenhum tipo de ganho, não faz sentido prático.”

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Ainda de acordo com Perego, Fernández também não deve se descuidar do Mercosul, já que as questões comerciais estão diretamente ligadas à recuperação econômica. “Não há nenhum presidente da Argentina, desde os anos 80, que não tenha apostado no Mercosul, porque uma região sem o bloco é inviável em razão da integração entre as economias.”

Por enquanto, pelo menos publicamente, Fernández vem se esforçando para mostrar uma política externa diferente da de Macri, mas e também da de Cristina. Em gestos e pensamento, o presidente argentino parece seguir à risca o lema de seu ex-chefe, Néstor Kirchner, que costumava repetir sempre que precisava acalmar os empresários: “Não prestem atenção no que digo, mas no que eu faço”.

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