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Na véspera de 100 dias de mandato, Biden defende gasto do governo e pede que população se vacine

Para marcar seus primeiros cem dias no cargo, o ex-senador discursa pela primeira vez em sessão conjunta no Congresso; ele se comprometeu a ajudar outros países na pandemia e disse que os EUA serão um 'arsenal de vacinas' para o mundo

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla e Correspondente
Atualização:

WASHINGTON - Na véspera de completar 100 dias à frente da presidência dos Estados Unidos, Joe Biden fez seu primeiro discurso ao Congresso, no qual pediu que os americanos se vacinem contra o coronavírus, defendeu projetos trilionários de reforma do Estado americano e afirmou que é hora de empresas e ricos financiarem programas sociais.

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"Saiam e vão se vacinar, americanos. As vacinas estão disponíveis", pediu à população. Depois de uma aceleração na vacinação, os EUA precisam agora convencer americanos que ainda hesitam em tomar a vacina a se imunizarem. Ele chega à data com sua principal promessa alcançada: a de aplicar 100 milhões de doses da vacina nestes 100 primeiros dias. A meta foi revisada no meio do caminho e ampliada para 200 milhões, algo que ele também atingiu. 

A senadores e deputados, Biden disse ter herdado um país em crise e colocado os EUA "em movimento"."A pior pandemia em um século. A pior crise econômica desde a Grande Depressão. O pior ataque à nossa democracia desde a Guerra Civil", disse o presidente, na mesma sala atacada em janeiro por extremistas pró-Trump que tentaram impedir a certificação de sua eleição.

"Agora - depois de apenas 100 dias - posso dizer à nação: os EUA estão em movimento novamente. Transformando o perigo em possibilidades. Crise em oportunidade. Revés em força", afirmou.

O presidente Joe Biden faz o discurso de seus primeiros 100 dias de governo, acompanhado pela vice-presiednte Kamala Harris e a presidente da Câmara Nancy Pelosi Foto: Chip Somodevillaat/Pool via Reuters

Mais da metade dos adultos já recebeu a primeira dose de alguma das vacinas disponíveis no país. "Estamos vacinando a nação. Estamos criando centenas de milhares de empregos. Estamos entregando resultados reais que as pessoas podem ver e sentir em suas próprias vidas. Abrindo as portas da oportunidade. Garantindo equidade e justiça", comemorou o presidente.

"Avós abraçando netos, ao invés de pressionarem a mão contra uma janela para dizer tchau", disse Biden, ao falar dos ganhos com a vacinação. Segundo ele, o processo de imunização dos americanosfoi uma das maiores "conquistas logísticas" do país.

Ao falar sobre política externa, Biden prometeu agir ao lado dos aliados históricos dos EUA e distribuir excedente de vacinas contra covid-19. "Vamos nos tornar um arsenal de vacinas para outros países, assim como somos um arsenal de democracia para o mundo", afirmou. "Mas cada americano terá acesso (a vacinas de covid-19) antes disso", afirmou. 

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Biden, um defensor das políticas de prevenção contra covid-19, chegou usando máscara de proteção contra covid e distribuindo cumprimentos com os cotovelos aos congressistas."É bom estar de volta", disse Biden, que foi senador por 36 anos, ao começar seu discurso.

Atrás do presidente, estavam duas mulheres, em um histórico momento em que a vice-presidente dos EUA e a presidente da Câmara são, respectivamente, Kamala Harris e Nancy Pelosi. "Senhora vice-presidente. Senhora presidente da Câmara. Nenhum presidente disse essas palavras desse pódio. Nenhum. E já é tempo", disse Biden, ao anunciar Pelosi e Harris. 

O presidente Joe Biden chega ao Capitólio para o discurso de 100 primeiros dias de governo Foto: Jonathan Ernst/Pool via REUTERS

Em ritmo acelerado, Biden declarou guerra à pandemia -- e já consegue começar a vê-la pelo retrovisor --, foi menos bipartidário e mais ousado do que esperavam e propôs transformar o tamanho do estado americano.

Biden quer fazer o governo federal, os mais ricos e as empresas financiarem a revitalização da infraestrutura no país, o maior acesso à educação e à saúde e a geração de empregos para a classe média. Tudo isso com uma economia mais sustentável e ambientalmente consciente. Com três pacotes trilionários (um deles aprovado e os outros dois sob teste), ele quer colocar o Estado no centro da resposta à crise econômica. No discurso, ele apelou aos congressistas para que apoiem os projetos e a mudança na forma de ver o estado americano.

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"Temos de provar que a democracia ainda funciona. Que nosso governo ainda funciona - e pode ajudar as pessoas", disse Biden, em seu primeiro pronunciamento ao Congresso, na noite de quarta-feira."Há 100 dias, a casa americana estava em chamas. Nós agimos", disse, ao celebrar que passou o plano de socorro econômico no início do governo. "Já estamos vendo os resultados", afirmou. O pacote foi aprovado sem apoio de senadores republicanos, mas Biden comemorou a aprovação popular de eleitores de todos os espectros políticos. 

O discurso foi feito para uma Câmara quase vazia. Ao invés dos 1,6 mil convidados que costumam assistir o pronunciamento, só 200 foram autorizados. Os parlamentares foram selecionados por sorteio e ordem de chegada. As restrições são consequência dos cuidados com a pandemia de coronavírus, mas também das preocupações de segurança. 

Empregos e pacotes

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Biden defendeu de seu plano econômico para geração de empregos, um pacote que pretende revitalizar toda a infraestrutura do país deve custar US$ 2,2 trilhões, com uma injeção de investimento federal em obras para criar empregos e consolidar a agenda ambiental cara ao democrata. 

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Em um recado ao setor financeiro, um foco de resistência aos seus projetos trilionários, ele afirmou que "Wall Street não construiu o país". "A classe média construiu o país. E os sindicatos construíram a classe média", disse. Segundo ele, o plano é um "projeto de colarinho azul", em referência a como são conhecidos os operários. 

O democrata também apresentou o seu terceiro pacote trilionário, para ampliar o acesso dos americanos à educação e à saúde. "Saúde deve ser um direito, não um privilégio nos EUA", disse. Ele defendeu que bilionários e milionários financiem os programas sociais. "Vamos reformar os impostos das empresas para que paguem o que é justo e invistam no bem estar", disse. Ele prometeu que não irá aumentar impostos da classe média. 

Em um momento histórico, Kamala Harris, primeira vice-presidente dos EUA, ficaatrás do presidente ao lado de Nancy Pelosi, a primeira mulher presidente da Câmara Foto: Jim Watson/Pool via Reuters

O presidente fez questão de dizer que os postos de trabalho criados beneficiarão o operariado -- que se sentiu abandonado durante o governo Obama e apoiou Donald Trump. "Eu sei que alguns de vocês em casa se preocupam se esses empregos serão para vocês. Vocês se sentem deixados para trás e esquecidos, em uma economia que tem mudado rapidamente", disse Biden. "Quase 90% dos empregos para infraestrutura criados não exigem diploma universitário", disse.

Ao defender o pacote de infraestrutura, Biden disse ainda que a construção de uma sociedade verde, com preocupação no desenvolvimento de uma economia sustentável, irá gerar empregos. "Quando falo em questões climáticas, penso em empregos", repetiu Biden. "Por muitos anos, nós falhamos no trabalho mais importante para combater as mudanças climáticas: empregos, empregos e empregos", disse.

Ele também defendeu o aumento do salário mínimo para US$ 15, algo que tentou emplacar no projeto de socorro econômico, mas abriu mão para ver o alívio financeiro rapidamente aprovado pelos democratas no Congresso. "Ninguém trabalhando 40 horas por semana deveria viver abaixo da linha da pobreza", afirmou o presidente. 

Ele também reforçou a defesa da política chamada de "Buy American" (Compre da América, em português), na qual o presidente aumentou a quantidade de componentes americanos que devem existir em produto para que ele seja considerado como produzido no país. A ordem executiva, assinada em janeiro, ampliou a compra de bens produzidos nos Estados Unidos pelo governo federal e foi considerada por analistas como uma reedição da chamada "América Primeiro", de Donald Trump. 

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Biden prometeu usar o "Buy American" no pacote de infraestrutura e falou da competição com os chineses. "Não há razão para que pás para turbinas eólicas não possam ser construídas em Pittsburgh (Pensilvânia), em vez de Pequim. Não há razão", disse Biden.

Política externa

O democrata fez um forte discurso sobre a China e a Rússia, rivais históricos. Eledisse que os EUA não buscam conflito, mas se levantarão contra "práticas comerciais injustas" e disse que avisou o líder chinês, Xi Jinping, que manterá uma relação forte com os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Não para criar um conflito, mas para evitar um", disse. Ao falar do presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que os EUA respondem proporcionalmente às tentativas russas de interferência na eleição americana.

Ele também falou sobre a saída das tropas americanas do Afeganistão, prometida por ele para ser concluída até 11 de setembro deste ano. 

Ao Congresso, que tem poder de transformar seus projetos em leis, Biden propôs maior controle de armas, a aprovação de reforma policial -- um pleito dos manifestantes contra o racismo que foram às ruas após o assassinato de George Floyd -- e pediu que os partidos acabem com "a guerra exaustiva" sobre imigração. O fortalecimento do governo, segundo ele, serão também uma forma de fortalecer a democracia.

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