No enterro de brasileira morta na Nicarágua, mãe lança campanha para escrever biografia da filha
Maria José da Costa usará a internet para arrecadar os cerca de R$ 4 mil necessários para a impressão de 100 unidades do livro no qual contará a história de vida de Raynéia Gabrielle Lima; ela pediu ajuda ao governo do Estado para acompanhar investigações
Os pais de Raynéia, Maria José da Costa e Ridevaldo Pereira de Lima, foram amparados por amigos e parentes durante todo o velório. A cerimônia de sepultamento foi realizada pouco antes do meio-dia.
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Abraçada ao diploma de médica e cirurgiã da filha, enviado pela Universidad Americana (UAM), Maria José anunciou que vai escrever uma biografia de Raynéia, como forma de homenagear a jovem.
"Minha filha saiu de Pernambuco, do Brasil, porque infelizmente não é fácil para alguém que vem de família pobre conseguir estudar medicina aqui. Esse era o grande sonho dela e ela foi atrás dele. Foram quase seis anos de muita luta e privações. Ela estudava com afinco, trabalhava duro e muitas vezes esquecia até de comer tamanha era a dedicação. Ela queria ser médica para ajudar as pessoas. Ela sentia muita falta da família, dos amigos, da terra dela. Todos os dias ela dizia como estava ansiosa para voltar para nossa casa. Quero que as pessoas conheçam essa guerreira", afirmou.
Para custear o projeto, a dona de casa pretende iniciar uma campanha na internet para conseguir os recursos necessários, cerca de R$ 4 mil, para a impressão de 100 unidades. Antes mesmo das 7 horas, horário previsto para o início do velório, dezenas de pessoas chegaram ao cemitério carregando fotos, cartazes e muitas flores. Algumas vestiam blusas com fotos de Raynéia.
Universitária brasileira é morta na Nicarágua
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Nicarágua - Raynéia Gabrielle Lima
A estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima vivia na Nicarágua desde 2013, quando se mudou para cursar Medicina, e pretendia voltar ao Brasil quando... Foto: FacebookMais
Raynéia Gabrielle Lima - Nicarágua
Ela fazia residência no Hospital Carlos Roberto Huembes, administrado pela Polícia Nacional da Nicarágua. Foto: Facebook
Raynéia Gabrielle Lima - Nicarágua
Raynéia era pernambucana de Vitória de Santo Antão e completaria 32 anos no próximo mês. Foto: Facebook
Rayneia Gabrielle Lima
Em seus perfis em redes sociais, ela demonstrava muito carinho pelo país que a acolheu. “Nascida no Brasil, renascida na Nicarágua. Liberdade, luz, pa... Foto: Reprodução / FacebookMais
Raynéia Gabrielle Lima - Nicarágua
Colegas de faculdade da brasileira afirmaram à agências de notícias internacionais que ela teve dificuldade no início, porque não falava nada de espan... Foto: Maryorit GuevaraMais
Raynéia Gabrielle Lima - Nicarágua
Amigos e colegasde Raynéia se reuniram em protesto contra sua morte e para homenageá-la em Manágua. Foto: Maryorit Guevara
Raynéia Gabrielle Lima - Nicarágua
Raynéia era filha única por parte de mãe, mas tinha três meias-irmãs e um meio-irmão por parte de pai. Foto: Maryorit Guevara
Raynéia Gabrielle Lima - Nicarágua
O governo brasileiro convocou a embaixadora da Nicarágua, Lorena Martínez, a darexplicações sobre a morte da estudante. Foto: Maryorit Guevara
Raynéia Gabrielle Lima - Nicarágua
O pai de estudante brasileira morta na Nicarágua diz que famíliaacompanha o caso pelas redes sociais. Foto: Maryorit Guevara
Amiga da universitária há mais de 15 anos, a professora Luciana Farias, de 34 anos, lembrou do amor da estudante pela vida. "Ela sonhava com o retorno para casa e fazia muitos planos. Era lindo ver a dedicação dela e o amor em poder ajudar as pessoas. Ela sempre foi assim. Adorava viver. Não há como esquecer aquele sorriso. Ela viva cantarolando, pulando e dançando", lembrou.
A funcionária do Escritório de Representação do Itamaraty no Nordeste, Carla Chelotti, que acompanhou o velório e o sepultamento ao lado do secretário de Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, explicou que a embaixada está atenta ao caso.
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"A embaixada em Manágua está pedindo esclarecimentos e acompanhando a investigação bem de perto", destacou. Durante uma conversa, por telefone, com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), a mãe de Raynéia pediu o apoio do Estado para acompanhar as investigações. "Eu pedi que ele não deixasse isso passar. Além de ser minha filha amada, ela era uma cidadã de Pernambuco."
Memória
Raynéia foi morta com um tiro no peito quando voltava do hospital universitário onde estudava e trabalhava. De acordo com o reitor da UAM, Ernesto Medina, a brasileira foi assassinada a tiros por "um grupo de paramilitares" no sul da capital.
O crime ocorreu em meio à maior onda de violência no país desde o fim da guerra civil, em 1990. Segundo a Associação Nicaraguense pelos Direitos Humanos, 448 pessoas morreram em 100 dias de protestos contra o governo do presidente Daniel Ortega.
A crise na Nicarágua em imagens: 100 dias de protestos
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Nicarágua 1
Os protestos na Nicarágua começaram no dia 18 de abril, quando a população foi às ruas contra a reforma da previdência social no país. Logo nas primei... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 2
A maior reclamação era de que as medidas não evitariam a falência do INSS e aumentariam o desemprego e a informalidade, diminuindo o consumo e a compe... Foto: AFP PHOTO / INTI OCONMais
Nicarágua 3
Já nas primeiras ocasiões, a imprensa foi censurada. O canal 100% Noticias, que transmitia os protestos ao vivo, foi retirado do ar. Em um protesto no... Foto: Jorge Torres/EPA/EFEMais
Nicarágua 4
O governo do presidente Daniel Ortega culpou "pequenos grupos de oposição" de serem os responsáveis pela revolta. No dia 22 de abril, ele revogou a re... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 5
Em 23 de abril, o número de mortos subiu para 31, quando policiais invadiram a Universidade Politécnica da Nicarágua e mataram quatro estudantes. Nest... Foto: EFE/Paolo AguilarMais
Nicarágua 6
O número de mortos estava em 34 no dia 25 de abril, quandocentenas de nicaraguenses marcharam com velas acesas pelas ruas da capital, Manágua, pedindo... Foto: EFE/Jorge TorresMais
Nicarágua 7
Além das 34 mortes, 66 pessoas feridas estavam internadas e, destas, 12 apresentavam estado crítico de saúde. Dos mortos, a maioria recebeu tiros na c... Foto: REUTERS/Jose CabezasMais
Nicarágua 8
Em 6 de maio, o número de mortos estava em 45 e o Parlamento - dominado por partidários de Ortega - criou uma comissão para investigar as mortes. Grup... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 9
Após 24 dias desde o início dos protestos, 50 pessoas haviam morrido, segundo as ONGs. Em 11 de maio, 21 estudantes foram intoxicados enquanto partici... Foto: Oswaldo Rivas/ReutersMais
Nicarágua 10
Em 17 de maio, cerca de 60 mortes haviam sido registradas e o número de feridos estava em 500. Neste momento, a Comissão Interamericana de Direitos Hu... Foto: AFP PHOTO / DIANA ULLOAMais
Nicarágua 11
No início de junho, 114 pessoas haviam morrido, incluindo um estrangeiro. A cidade de Masaya, que fora reduto dos rebeldes na década de 80, havia se t... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
Nicarágua 12
Em 16 de junho, cerca de 200 mortes eram contabilizadas. Governo e oposição fizeram um acordo para que organizações internacionais verificassem as fat... Foto: REUTERS/Jorge CabreraMais
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Em 7 de julho, Ortega declarou que não anteciparia as eleições, o que elevou as tensões pelo país e motivou mais protestos.Barricadas foram levantas p... Foto: EFE/Bienvenido VelascoMais
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Em 17 de julho, o Parlamento aprovou uma lei sobre terrorismo que, segundo a ONU, poderia ser utilizada para criminalizar protestos pacíficos. No mesm... Foto: AP Photo/Alfredo ZunigaMais
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Na ocasião moradores ergueram barricadas de até dois metros de altura para se proteger. Trinta e sete caminhonetes cheias de agentes da polícia antimo... Foto: REUTERS/Oswaldo RivasMais
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Em 20 de julho, no aniversário da Revolução Sandinista,Ortega pediu aos manifestantes para acabar com que considera uma tentativa de "desestabilizar o... Foto: REUTERS/Oswaldo Rivas TPX IMAGES OF THE DAYMais
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Ainda em 21 de julho, dezenas de mães que procuravam seus filhos presos ou desaparecidosforam expulsas por agentes do governo e ameaçadas com armas de... Foto: Marvin Recinos / AFPMais
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Em 23 de julho, a estudante universitária brasileiraRaynéia Gabrielle Lima foi morta a tirosquando voltava para casa depois de um plantão hospitalar n... Foto: Reprodução / FacebookMais
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A comunidade internacional voltou a pressionar Ortega e pedir eleições antecipadas.O Brasil condenou a morte da estudante, pediu que o caso seja inves... Foto: REUTERS/Jorge CabreraMais