TRINIDAD, CUBA - Com o anúncio da morte de Fidel Castro na madrugada de sábado, Trinidad, a 316 quilômetros de Havana, dormiu mais cedo. Decretado luto nacional em todo o país até o dia 4, foram suspensas festas, música e a venda de bebidas alcoólicas, o que diminuiu de maneira brusca o movimento noturno e frustrou grande parte dos turistas.
Na noite de sábado, as ruas da vila histórica, fundada no século 16, estavam quase vazias. Pelas vielas estreitas de chão de pedra e casinhas coloridas, não se viam grandes grupos, tampouco se ouvia música para embalar a noite, como de costume. Garçons sentavam-se diante dos estabelecimentos, que já não vendiam coquetéis, mas apenas água e refrigerante. Pelo fraco movimento, bares e restaurantes fecharam mais cedo, a maioria antes das 23 horas.
María Ramírez, de 26 anos, estava limpando e fechando a Spaguetteria Italiana. “É ruim para os negócios, mas é um sinal de respeito. Na minha casa sentimos muito pelo que aconteceu”, conta ela. “Vamos ter de vender mais sucos e refrigerantes, o que é mais difícil, mas um bom vendedor faz de tudo, não?”
Na noite anterior, o cenário era outro. A famosa Casa de la Música, na Praça Maior, acolhia centenas para ver e dançar salsa ao ar livre, com banda ao vivo. Já no sábado, com a casa fechada, turistas e cubanos tiveram de se contentar em ficar na escadaria que leva ao local, mexendo no celular, jogando conversa fora ou fazendo alguma coisa fora dos planos originais de viagem para passar o tempo durante o luto. Num dos cantos da escadaria, um grupo de cinco alemães brincava com cartas. “Estávamos tão entediados que perguntamos a essas três meninas se poderíamos jogar também”, conta Franziska Fiedler, de 30 anos.
Ela e o companheiro, Frank Fiedler, ficaram sabendo da morte de Fidel na madrugada de sábado no meio da balada. Na famosa discoteca Ayala, peculiar por estar dentro de uma caverna, as pessoas foram informadas pela polícia local pouco depois da 1 hora da manhã que o “comandante” havia morrido. “Os cubanos saíram imediatamente, mas os turistas ficaram sem entender direito, principalmente os que não falam espanhol”, conta ele. Logo as luzes se acenderam e todos tiveram de sair do local.
“É bem ruim não ter mais música e festas, pois viemos justamente para dançar salsa e ter toda a experiência latina”, acrescentou a fisioterapeuta Katrin Schereckberg. “Com certeza, prejudica as férias, pois nove dias são muito tempo”, diz ela, que ficará mais uma semana em Cuba com duas amigas. A proibição de bebidas alcoólicas já não é seguida tão à risca, sobretudo na periferia. “Fomos num passeio a uma cachoeira próxima e bebemos mojitos o dia todo”, conta Katrin.
Franziska e Frank foram a Ancón, praia a 16 quilômetros de Trinidad, e também não tiveram problemas para conseguir bebidas. No centro da cidade, a busca por um drink era uma tarefa bem mais difícil, mas não impossível. “Mojito não dá, mas piña colada, sim”, disse em voz baixa o dono de um bar.
Alguns moradores que trabalham com turismo vão a Havana para as homenagens. Nas praças, diversos taxistas ofereciam viagens à capital, de cinco horas. “Se derem transporte público, quero ir a Havana para agradecer a Fidel”, diz Giovani Duarte, de 32 anos. Ele trabalha de garçom em um hotel em Ancón, onde ganha 400 pesos cubanos por mês – pouco mais de R$ 60, além das gorjetas. Com um filho de 3 anos, diz que o dinheiro é suficiente. “Não falta comida no fim do mês, para mim está bom.”