No leste da Ucrânia, a guerra é culpa de Poroshenko e dos EUA

Grande parte da população da área responsabiliza Estados Unidos e Europa pelos bombardeios e mortes

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Por GRABOVO e UCRÂNIA
Atualização:

A certeza de que o voo MH17 foi derrubado por militares da Ucrânia, e não por separatistas, é compartilhada por grande parte dos moradores do leste da Ucrânia, que responsabilizam ainda os Estados Unidos e a Europa pelos bombardeios e pelas mortes.

Petro Poroshenko em encontro com forças armadas da Ucrânia Foto: REUTERS/Mykola Lazarenko

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Para habitantes de grandes cidades da região de Donbass, como Donetsk, ou pequenos vilarejos, como Grabovo, a versão para a queda do Boeing 777 da Malaysia Airlines ou para a guerra é com frequência oposta à de Kiev ou à do Ocidente. Militares ucranianos são vistos como invasores que flagelam cidades e matam civis e os separatistas e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, são os redentores.

"Nós achamos que a guerra vai piorar. Sobretudo se eles atiraram nesse avião", diz Maria Ivanova, de 73 anos, referindo-se ao Exército ucraniano, que acredita ser responsável pela queda da aeronave e pela morte de 298 pessoas. "(O presidente ucraniano Petro) Poroshenko disse que Donbass deveria ser riscada do mapa e Luhansk também. Mas por que abater estrangeiros?"

Vera Gussak, de 72 anos, também acredita na culpa dos europeus e dos americanos. Moradora de Grabovo, viu sua casa tremer com a explosão do Boeing, escondendo-se sob a cama. "Achei que tinham jogado uma bomba e me escondi no porão. Hoje, sempre que ouvimos um avião, corremos para nos refugiar", conta.

Mais à frente, em outro ponto dos campos em que os destroços do Boeing 777 caíram, uma mulher chegou de bicicleta trazendo flores e depositou-as no local. Ao sair, atacou Poroshenko. "Não há presidente na Ucrânia", afirmou. "Os militantes nem têm armas para derrubar um avião como esse."

Entre os moradores da região de Donbass que decidiram permanecer em meio ao conflito armado, há os que não escolhem lado, mas se revoltam com a crise. É o caso de Katerina, de Grabovo, que diz torcer pela paz e reclama da forma como a mídia estrangeira os classifica. "Eu tenho cara de separatista? Aqui não há deputados, não há políticos, só trabalhadores. Venham aqui para ver a situação da Ucrânia."

/ A.N.

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