LIMA - Quando criou um dos jogos de tabuleiro mais famosos do Peru, no ano 2000, inspirado nos escândalos que levaram à queda de Alberto Fujimori, o engenheiro Javier Zapata jamais imaginaria que a brincadeira teria tantas atualizações ao longo de 20 anos. Agora, quem participa do Presidente, tem cartas novas, que refletem o caos político peruano nos últimos anos, como a “vacância”, o “vacinagate” e a “quarentena”.
Quem brinca de Presidente pode comprar meios de comunicação, ficar amigo de um juiz corrupto ou ter conta em paraísos fiscais para ganhar o jogo. As mudanças fazem que quem seja desonesto tenha mais chances de vencer, diz o criador.
O jogo funciona da seguinte maneira: os jogadores se enfrentam para chegar à presidência. Cada um recebe cartas com alguns malfeitos. A última versão ganhou 16 novas cartas, adicionadasàs 80 já existentes. A diferença: desta vez, quem sai com as cartas desonestas faz mais pontos.
“A verdade é que é mais fácil se dar bem desse jeito”, disse Zapata, da editora de jogos Malabares. “O jogo fica mais real. Antes, você perdia pontos com as jogadas desonestas. Mas agora mudamos a pontuação.”
As partidas duram até 20 minutos e podem ter de dois a cinco participantes. Algumas cartas dão votos. Outras dão dinheiro e poder, o que impede o ataque de adversários. Há ainda as cartas que dão punições.
“Vamos de mal a pior. O problema agora não é apenas uma obra superfaturada. Temos muito a perder”, diz o inventor do jogo, sobre a disputa entre Keiko Fujimori, filha do ex-ditador, e Pedro Castillo, um novato na cena política com um discurso antipolítico que mescla propostas conservadoras nos costumes e populistas na economia.
Desde 2016, o Peru teve quatro presidentes. Eleito contra Keiko, num segundo turno acirrado, Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK, foi afastado do cargo em meio a denúncias de envolvimento com o escândalo da Odebrecht. Seu vice, Martin Vizcarra, também foi afastado, assim como Manuel Merino, em um processo que durou dez dias. Hoje, o país é presidido por Francisco Sagasti, num mandato-tampão.
As denúncias da Lava Jato no Peru, que levaram à prisão de todos os ex-presidentes eleitos do Peru desde o ano 2000, e ao suicídio de um deles, ampliaram o desalento da população com a política. O segundo turno da eleição presidencial está marcado para 6 de junho./EFE