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No telefonema a Blair, Chirac propõe trabalho conjunto

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Jacques Chirac telefonou ao primeiro ministro Tony Blair propondo para que ambos trabalhem juntos à procura de uma saída honrosa para o impasse atual, mas no contexto da resolução 1441 da ONU, privilegiando uma lógica de paz e não de guerra contra o Iraque. Chirac disse a Blair que, antes de qualquer coisa, os inspetores das Nações Unidas devem apresentar um novo relatório sobre o desarmamento pacífico do país, convencido que as inspeções apresentam até agora resultados satisfatórios, mas que podem ser melhorados. Uma outra iniciativa diplomática francesa é a visita neste fim de semana da ministra da Defesa, Michelle Alliot Marie, ao Qatar, Emirados e Arábia Saudita, ocasião em que ela transmitirá uma mensagem do presidente Chirac aos responsáveis por esses países. Os fortes ataques verbais do governo britânico, inclusive do primeiro ministro Tony Blair, contra Chirac e seu ministro do Exterior, Dominique de Villepin, acusados de "intransigência" e de estarem impedindo qualquer compromisso no Conselho de Segurança, levaram o presidente francês a adotar ontem essa iniciativa. Nas últimas 48 horas, Blair e seus ministros iniciaram uma forte ofensiva contra Chirac, buscando responsabilizá-lo por seus recentes revezes diplomáticos. Segundo os britânicos, se até agora nenhuma solução para a crise iraquiana pode ser encontrada no Conselho de Segurança, a culpa exclusiva é da França e de seu presidente. Um porta voz do primeiro ministro em Downing Street chegou a afirmar que "a França injetou veneno no sistema sangüíneo diplomático", bloqueando com sua ameaça de veto todas as iniciativas. Para Blair, a ação do presidente Chirac tornou mais "iminente" a guerra. Os ataques dos ministros e políticos britânicos, inclusive da oposição, revelam que Blair, sua base parlamentar e seus ministros, encontram-se politicamente desestabilizados, diante das críticas internas e externas desde que ele optou pela guerra como melhor forma de desarmar Saddam Hussein. Essa posição tem contribuído para deteriorar sua imagem do homem que preconizou a alternativa da "terceira via" , influenciando, no início de sua gestão, sua própria geração política. Hoje esses ataques não sensibilizam sequer a imprensa inglesa, mesmo sendo muito anti-francesa. Uma montagem fotográfica foi publicada, onde aparece a cabeça de Tony Blair próxima de uma guilhotina, instrumento que os franceses utilizaram para cortar a cabeça do rei Luis XVI. Quando cobertos pelo anonimato, os dirigentes britânicos tem se mostrado ainda mais críticos. Enquanto o governo britânico busca uma solução de compromisso, a França só tem sabotado os esforços, adotando uma "postura extremista", quando ameaça recorrer a seu direito de veto "sejam quais forem as circunstâncias", como afirmou o presidente Chirac. Isso, segundo os dirigentes britânicos, "tornam nosso papel quase impossível". Esses mesmos dirigentes, no início da crise entre os dois países, afirmavam que Chirac não iria até o fim, e que, depois de um jogo de cena, ele aceitaria a posição anglo americana. Os analistas do governo Blair subestimaram a posição da França e de seu presidente que, fortemente apoiado pela opinião pública interna e externa, além da classe política, da esquerda à direita, está disposto a ir até o fim, liderando o campo da paz como apoio da Alemanha, Rússia e China. Enquanto isso, americanos, ingleses e espanhóis (os italianos não foram convidados) se reúnem no fim de semana nos Açores, sem saber se apresentam ou não uma nova resolução ao Conselho de Segurança na segunda feira ou se iniciam imediatamente as operações militares sem o aval da ONU. Essa opção poderia constituir uma catástrofe política para os governos da Grã Bretanha e da Espanha, onde se verifica uma forte oposição da opinião pública. A previsão de bom tempo nesse fim de semana em quase toda a Europa poderá contribuir para que as manifestações de rua programadas sejam ainda mais importantes nesses países do que as do mês de fevereiro, constituindo também uma advertência a esses três países.

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