Nobel da Paz russo pede cessar-fogo e fala em "ameaça real" de guerra nuclear

Jornalista Dmitry Muratov, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2021, afirmou que o maior perigo atual é a possibilidade e a ameaça de uma resposta nuclear aos conflitos. Ele pede o cessar-fogo da guerra na Ucrânia

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Por Redação
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O jornalista russo Dmitry Muratov, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2021, pediu nesta quinta-feira "um cessar-fogo incondicional e uma trégua" na invasão da Ucrânia pela Rússia e enfatizou que "há uma ameaça real de guerra nuclear". Muratov, de 60 anos, foi um dos fundadores, em 1993, do jornal independente Novaya Gazeta, do qual é editor-chefe. A publicação é "uma importante fonte de informação sobre aspectos censuráveis da sociedade russa que raramente são mencionados por outros meios de comunicação", de acordo com o Comitê Nobel Norueguês.

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"Há uma ameaça real de guerra nuclear", disse Muratov durante um discurso por videoconferência no Subcomitê de Direitos Humanos do Parlamento Europeu. Ele lembrou que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse ontem que "a terceira guerra mundial seria uma guerra nuclear" e imagina que "ele estava se referindo ao que está acontecendo na Europa Central".

Muratov considera que "o maior perigo" na atualidade é "a possibilidade, a ameaça de uma resposta nuclear, que (o presidente russo, Vladimir) Putin já havia indicado quando disse que se os Estados Unidos interviessem (na guerra na Ucrânia), a resposta que daria seria algo que nunca tinha sido visto antes na história". "Tudo isso soa como um pesadelo, mas não excluo a possibilidade de que, em um dado momento, eles sejam tentados a apertar o botão vermelho", declarou.

Editor-chefe do jornal russo Novaya Gazeta, Dmitry Muratov, foium dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz em 2021. Nesta quinta-feira, jornalista pediu cessar-fogo na invasão russa na Ucrânia Foto: Novaya Gazeta

Muratov pediu "um cessar-fogo incondicional e uma trégua, que deveria ser o foco das negociações", para "evitar uma catástrofe humanitária, salvar civis inocentes", assim como criar "corredores humanitários, acesso aos feridos, troca de prisioneiros, e que aqueles que morreram na luta possam ser enterrados".

O vencedor do Nobel afirmou que "ninguém jamais imaginou que a Rússia atacaria a Ucrânia, que aviões russos bombardeariam Kiev e destruiriam Kharkiv e que as forças russas entrariam no país". Ele também comentou que "tem havido repetidas ameaças de uso de força nuclear, mísseis nucleares, diferentes tipos de armas nucleares" e que essa ameaça "agora é comum para as autoridades".

O jornalista lembrou que no Parlamento da Rússia "um vídeo interessante foi recentemente apresentado sobre o lançamento de mísseis contra os Estados Unidos". "Agora, há que se considerar que a possibilidade de uma guerra nuclear está se tornando muito comum. Está sendo falada nas estações de rádio, nos canais de televisão. E eu acho isso extremamente preocupante", declarou.

Muratov lamentou o fechamento de veículos de mídia independentes na Rússia, como a rádio Eco de Moscou, na quarta-feira, e encorajou as pessoas a procurarem outros veículos de informação na internet que não sejam os oficiais.

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Ele disse que o povo russo é esmagadoramente contra a guerra e que o Parlamento atual "não o representa". "Por favor, não confunda os russos com seus líderes, que são os que iniciaram esta atrocidade. O futuro de nossos filhos foi cortado por esta guerra", ressaltou.

"Estou em contato com várias pessoas, inclusive as dos círculos de elite, e as elites são monolíticas, estão muito consolidadas", explicou, em resposta à possibilidade de Putin encontrar oposição em seus círculos mais próximos.

Muratov contou também que visitou ontem o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev no dia em que ele completou 91 anos, no hospital onde está internado. "E ele rejeita categoricamente a possibilidade de uma guerra nuclear. Entretanto, não sei a quem nossas autoridades vão dar ouvidos. Só escutam uma pessoa", disse.

Biografia

Dmitry Muratov é editor-chefe do jornal russo Novaya Gazeta e foi um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2021. Ele dividiu o prêmio com Maria Ressa, jornalista das Filipinas. O prêmio foi concedido a dupla “por seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão, que é uma condição prévia para a democracia e uma paz duradoura”, justificou a premiação do Nobel. /EFE

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