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Normais para Trump, testes de mísseis na Coreia do Norte mostram sinais de avanço de arsenal

Para oficiais de inteligência americanos e especialistas externo, lançamentos permitiram que Kim testasse mísseis com maior alcance e capacidade de manobra

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Por Redação
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PYONGYANG - Como a Coréia do Norte disparou uma série de mísseis nos últimos meses - pelo menos 18 desde maio - o presidente Donald Trump repetidamente rejeitou sua importância como testes de curto alcance e os considerou "muito normais". E embora ele tenha admitido que “pode haver uma violação das normas das Nações Unidas”, o presidente diz que todas as preocupações são exageradas.

Kim Jong-un, líder da Coréia do Norte, como explicou Trump recentemente, apenas “gosta de testar mísseis”.

Coreia do Norte faz teste de míssil balístico de pequeno alcance Foto: KCNA via KNS / AFP

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Agora, oficiais de inteligência americanos e especialistas externos chegaram a uma conclusão bem diferente: que os lançamentos subestimados por Trump, incluindo dois feitos no fim do mês passado, permitiram que Kim testasse mísseis com maior alcance e capacidade de manobra, que poderiam suplantar as defesas dos EUA na região.

O ministro da Defesa do Japão, Takeshi Iwaya, disse a repórteres em Tóquio na semana passada que as trajetórias irregulares dos testes mais recentes eram novas evidências de um programa projetado para derrotar as defesas que o Japão implantou, com a tecnologia dos EUA, no mar e no litoral.

A adulação de Kim por Trump com cartas cativantes e as reuniões esporádicas oferecendo garantias vagas de um eventual desarmamento nuclear, dizem alguns especialistas externos, fazem parte do que eles consideram a estratégia do líder norte-coreano de ganhar tempo para melhorar seu arsenal, apesar de todas as sanções contra a Coréia do Norte.

Essas rápidas melhorias nos mísseis de curto alcance não só colocam o Japão e a Coréia do Sul em maior perigo, mas também representam ameaça a pelo menos oito bases americanas nos países que abrigam mais de 30 mil soldados, de acordo com uma análise sobre o alcance dos mísseis pelo New York Times. Tais mísseis, dizem os especialistas, poderiam ser projetados para carregar ogivas convencionais ou nucleares.

"Kim está explorando de uma forma brilhante as brechas em seus acordos com o presidente Trump”, disse Vipin Narang, professor de ciências políticas do MIT que estuda os avanços de armas na Coréia do Norte. “Esses são lançados por dispositivos móveis, movem-se rapidamente, voam muito baixo e são manobráveis. Isso é um pesadelo para a defesa antimísseis. E é apenas uma questão de tempo até que essas tecnologias migrem para mísseis de longo alcance."

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Kim prometeu parar testes

Trump diz que Kim se comprometeu com ele durante uma reunião em Cingapura há 14 meses que ele se absteria de testar mísseis balísticos intercontinentais e de realizar testes nucleares, enquanto as negociações estavam em andamento, e ele manteve tais promessas, mesmo que não tenham sido realizadas negociações substanciais desde uma segunda cúpula em Hanói, em fevereiro, que resultou em um impasse.

Mas a mídia estatal norte-coreana deixou claro na semana passada que o país não encara tais limites quando se trata de melhorar outras tecnologias de mísseis, dizendo que nunca iria acatar a exigência do Ocidente “por desarmamento sob pressão e conciliação da ‘sociedade internacional’".

De sua parte, Kim não se fez de rogado em divulgar os últimos avanços dos mísseis, participar de muitos testes e liberar fotografias das celebrações pós-lançamento com sua confiança nos construtores de mísseis, um grupo de oficiais que continuaram estavelmente o desenvolvimento de armas enquanto a diplomacia falava atabalhoadamente.

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A Agência de Inteligência de Defesa divulgou uma estimativa, ao mesmo tempo em que selecionava funcionários dentro do governo dos EUA neste verão, calculando que o Norte também tenha produzido combustível suficiente para cerca de uma dúzia de novas armas nucleares desde as negociações históricas em Cingapura. Outras agências de inteligência têm “números mais conservadores”, disse um ex-alto funcionário, mas todas apontam para uma expansão no número de bombas.

O secretário de Defesa, Mark Esper, disse que o governo está preocupado com os testes de mísseis da Coréia do Norte, mas que “não vamos reagir com exagero”, no interesse de preservar os esforços em uma solução diplomática.

Mesmo assim, o secretário de Estado, Mike Pompeo, que assumiu a liderança no esforço de livrar a Coréia do Norte de suas armas e mísseis nucleares, sugeriu aos colegas estrangeiros em reuniões privadas nas últimas semanas que teme que o governo esteja sendo pressionado, de acordo com autoridades japonesas e sul-coreanas.

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Em público, Pompeo é mais circunspecto. Ele recentemente disse à CBS: “Nós não voltamos à mesa tão rapidamente quanto esperávamos, mas fomos bastante claros o tempo todo, sabíamos que haveria solavancos ao longo do caminho”.

Pyongyang começou a lançar mísseis após mísseis

Os solavancos, no entanto, aumentaram muito nos últimos meses, quando o Norte começou a lançar mísseis após mísseis, testando pelo menos três novas variedades. Os testes mostraram a capacidade do Norte de lançar confiavelmente mísseis de combustível sólido, que são mais fáceis de esconder nas montanhas e que poderiam ser rapidamente implantados em lançadores móveis e disparados antes que os Estados Unidos pudessem responder.

“Kim sabe muito bem o que está fazendo”, disse Narang, professor do MIT. “Ele provavelmente acha que Trump pode conviver com uma Coréia do Norte nuclear, desde que não teste ICBMs e armas nucleares, o que humilharia Trump e tiraria a percepção de que ele alcançou algum tipo de vitória” com sua diplomacia.

Autoridades do governo contestam a opinião e dizem que os testes são um sintoma de um Norte que tenta desesperadamente dar um fim à “pressão máxima”, e é assim que Pompeo descreve as sanções que os Estados Unidos impuseram ao país. E há algumas evidências para sua posição: a mídia oficial da Coréia do Norte descreveu recentemente o secretário de Estado como uma “toxina obstinada”.

Se há alguma lição a ser tirada das mais recentes provocações norte-coreanas é que Kim claramente tem uma estratégia própria de pressão máxima.

Esforço secreto do Pentágono

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Em 2015 e 2016, os testes de mísseis do país estavam fracassando em um índice surpreendentemente elevado. Algumas autoridades do setor de inteligência e especialistas externos vincularam pelo menos alguns desses contratempos a um esforço secreto do Pentágono para sabotar tais lançamentos, com ataques cibernéticos e eletrônicos.

Mas, em 2017, no primeiro ano de Trump no cargo, Kim adotou novos projetos e realizou 14 lançamentos com sucesso, principalmente de mísseis de médio e longo alcance, pela primeira vez revelando o espectro de que ele poderia alcançar todos os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, ele fez uma série de testes nucleares, incluindo sua maior arma até agora, que ele descreveu como uma bomba de hidrogênio.

Esses sucessos levaram Trump a alertar primeiro sobre “fogo e fúria como o mundo nunca viu”, e depois começar a dança diplomática em direção à cúpula de Cingapura no ano passado, a primeira vez que um presidente americano teve uma reunião com qualquer membro da família Kim. Depois, Trump disse que a Coréia do Norte estava no rumo do desarmamento, dizendo a repórteres que esperava ver grandes resultados num prazo de seis meses.

Durante quase um ano depois, Kim pareceu se abster de disparar mísseis, talvez na esperança de que o governo Trump atenuasse as sanções.

Kim parece intensificar tática dos testes

Então a diplomacia deu uma parada na segunda cúpula, em Hanói. Kim se ofereceu para fechar o principal complexo nuclear do Norte em Yongbyon - mas nenhuma outra instalação nuclear ou quaisquer sítios de mísseis - em troca do levantamento das sanções mais severas. Trump rejeitou tal oferta por insistência de Pompeo e John R. Bolton, seu consultor de segurança nacional.

Kim agora parece estar voltando à tática que funcionou para ele há dois anos: intensificar os testes para exibir novos recursos.

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“Os recursos deles sempre foram o de pressionar e ver como podem se safar”, disse Vann H. Van Diepen, um alto funcionário especializado em armas de destruição em massa no escritório do Diretor de Inteligência Nacional. até 2009.

A controvérsia recente começou no início de maio, quando o Norte disparou um míssil de nove metros de altura de um caminhão de oito rodas. Analistas disseram que era um foguete de combustível sólido que pode ser lançado em minutos - ao contrário dos mísseis de combustível líquido, que podem exigir horas de preparação.

Ao todo, o Norte realizou oito testes de voo do novo míssil em maio, julho e agosto. Verificou-se que seu alcance máximo era de quase 700 quilômetros, de acordo com o Centro para estudos de não-proliferação, um grupo privado em Monterey, Califórnia. O míssil, se aperfeiçoado, poderia atingir a Coréia do Sul, incluindo pelo menos seis bases dos EUA e partes do sul do Japão, incluindo duas grandes bases.

A Coréia do Norte estreou outro tipo de míssil no fim de julho e no início de agosto, juntamente com um novo sistema de lançamento. Van Diepen, o ex-alto funcionário americano especialista em armas de destruição em massa, descreveu o sistema na 38 North, publicação respeitada na Coréia do Norte, como uma nova geração de armas que poderia disparar simultaneamente um número desconhecido de mísseis. O tipo mais antigo pode disparar oito.

O alcance do míssil recém-testado era de 250 quilômetros, cerca de 64milhas a mais que a versão anterior. Van Diepen disse que isso aumentaria a capacidade do Norte de submeter os alvos dos EUA e da Coréia do Sul a “ataques de saturação”, que também podem derrotar as defesas antimísseis.

A Coréia do Norte testou um terceiro míssil novo duas vezes no início de agosto. Os analistas ainda precisam determinar quais avanços eles podem representar.

Então, no final do mês passado, o Norte disparou dois projéteis do que chamou de “multi lançador de foguetes supergrandes”. Narang, do MIT, disse que o sistema parecia novo, tornando-o talvez o quarto sistema de mísseis a fazer sua estreia este ano e outra repetição de um lançador de foguetes múltiplos. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO 

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