EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Nos EUA, Bolsonaro mira base ideológica, mas volta de malas vazias

Em Dallas, presidente prestou continência à bandeira americana, criticou a imprensa e o PT, mas não levou nenhuma conquista econômica ou diplomática

PUBLICIDADE

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla
Atualização:

Caro Leitor,

Mais de mil empresários tiraram do bolso ao menos US$ 1,5 mil para encontrar Jair Bolsonaro em jantar de gala em Nova York. Os ingressos para festas e palestras se esgotaram em tempo recorde. Mas empresários e investidores ficaram a ver navios. A maior cidade dos EUA é símbolo de diversidade e ativistas organizaram um boicote ao presidente em razão de suas posições sobre raça, gênero e meio ambiente. A novidade é que foram reverberadas por Bill de Blasio, prefeito de Nova York. O boicote fez a homenagem mudar de lugar e perder o glamour de ter uma ossada de baleia como cenário, no tradicional Museu de História Natural.

Bolsonaro durante homenagem em Dallas / Marcos Correa/PR Foto:

PUBLICIDADE

Bolsonaro desistiu de Nova York, mas De Blasio continuou provocando. Ele chamou Bolsonaro de “valentão que não aguenta uma briga”. A Câmara de Comércio Brasil-EUA, que escolheu Bolsonaro como “pessoa do ano”, tentou colocar panos quentes e o Itamaraty buscou uma saída. Havia consenso que Bolsonaro deveria receber o prêmio “em solo americano”. E foi assim que ele chegou a Dallas, no conservador Estado do Texas. Não que o prefeito da cidade concorde com Bolsonaro, mas ele não se opôs.

Em uma semana, o governo brasileiro improvisou uma agenda com dois compromissos: um almoço com 100 empresários, para receber o pêmio, e um encontro com o ex-presidente George W. Bush. Outras duas reuniões foram sendo confirmadas no meio da viagem, que durou pouco mais de 30 horas. Enquanto isso, em Nova York, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Dias Toffoli sinalizavam para investidores que a articulação com o Planalto melhorou (como você lê nessa entrevista), que a reforma da previdência será aprovada e os Poderes estão em harmonia. O otismismo durou até Bolsonaro desembarcar no Texas.

Em Dallas, com declarações destemperadas, segundo esta análise, o presidente deu força às ondas que criavam o seu próprio tsunami. Primeiro, chamou os manifestantes contra o arrocho na educação de “idiotas úteis”. Esse link ajuda a entender o que causou protestos em 240 cidades do Brasil. Depois, frente ao avanço das investigações a Flávio Bolsonaro, ele desafiou: “Venham para cima de mim”. Este editorial critica o fato de Bolsonaro transformar “debates importantes em brigas de rua”.

Publicidade

Enquanto isso, o governador de São Paulo, João Doria, assumiu o protagonismo – saiba aqui como foi a homeangem à "pessoa do ano" sem a pessoa do ano. Circulando em meio ao grupo de apoiadores que acampavam no hotel de Bolsonaro, ministros faziam questão de dizer que a visita ao Texas tirou a má impressão do imbróglio de Nova York.

Em Dallas, Bolsonaro prestou continência à bandeira americana, dialogou com sua base ideológica, fez campanha contra a candidatura de Cristina Kirchner na Argentina, criticou a imprensa e o PT. Mas, na bagagem de volta, não levou conquistas econômicas ou diplomáticas. E, com o dólar acima de R$ 4, provavelmente, também não levou nenhuma compra.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.