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Nova eleição na Espanha pode manter crise

Sondagens de opinião pública apontam cenário difícil para formação de governo por vencedor

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

PARIS - Paralisada pelas divergências políticas até aqui insuperáveis entre quatro partidos, a Espanha se prepara para retornar às urnas em 26 de junho com um gosto de déjà vu. Com os mesmos candidatos de dezembro, o país se lança a uma nova campanha eleitoral que pode não resolver nada no impasse político em que está mergulhado. 

À espera de um governo desde 20 de dezembro, os espanhóis continuam divididos e, segundo pesquisas de opinião, o cenário de desacordo no Parlamento se mantém inalterado.

Rei Felipe VI convocou votação após negociação fracassar Foto: REUTERS/Alvin Baez

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As últimas pesquisas de opinião mostram o atual primeiro-ministro, Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP), mais uma vez à frente nas intenções de voto, mas de novo incapaz de formar um governo de maioria. Seguem, por ordem, Pedro Sanchez, do Partido Socialista (PSOE), Pablo Iglesias, do Podemos (esquerda radical) e Albert Rivera, líder do Ciudadanos (liberal), todos com perspectivas de bancadas similares às da eleição de 20 de dezembro. 

Segundo sondagem realizada pelo instituto Sigma para o jornal El Mundo, Rajoy e a bancada do PP ganhariam três assentos, subindo de 123 para 126 deputados - ainda longe da maioria de 176. Em segundo lugar, apareceria Sanchez, do PSOE, cuja bancada passaria de 90 a 91 deputados. Liderado por Iglesias sob pressão da opinião pública, o Podemos seria o maior derrotado, recuando de 70 deputados para 58, enquanto o Ciudadanos, de Rivera, passaria de 44 a 45 representantes. 

Mantida nas urnas, a repartição em quatro do Parlamento resultaria em um cenário quase idêntico ao atual, que obrigou o rei Felipe VI a convocar novas eleições. O impasse ocorre porque Rajoy, mesmo longe de obter uma maioria e rejeitado por todos os demais partidos, não admite deixar o comando do PP - o que na prática isola a legenda e a impede de permanecer no comando do governo. 

Já Sanchez, que se tornou o primeiro político a ser vetado pelo Parlamento por propor um governo de minoria, optou por uma aliança com Rivera, formando um acordo PSOE-Ciudadanos que também fica longe da governabilidade. A única opção plausível, a de um governo PSOE-Podemos, liderada pela dupla Sanchez-Iglesias, foi negligenciada pelos socialistas e recusada pela esquerda radical, insatisfeita com as concessões que teriam de ser feitas. 

“É preciso passar por novas eleições. Todas as tentativas de maioria possível foram mais ou menos tentadas, mas sempre houve bloqueio”, avaliou o cientista político espanhol Manuel Cervera-Marzal, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS), de Paris. 

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Segundo o especialista, os quatro meses e meio de impasse resultaram em um aumento da simpatia por Rivera e pelos centristas do Ciudadanos, vistos como transigentes e moderados, e um desgaste de Iglesias e do Podemos, isolados na extrema-esquerda. Para Cervera-Marzal, o que está claro para a maior parte da opinião pública é o desejo de se livrar de Rajoy. 

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