Nova geração no exílio

Tradicional peso do voto cubano da Flórida se diluiu após a chegada de imigrantes de outros países da América Latina

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Por The Economist
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Antes de Felice Gorordo, um jovem empresário cubano-americano visitar pela primeira vez sua terra natal, em 2002, ele teve de travar uma briga titânica com seus pais. A mãe e o pai são republicanos encruados, como muitos que deixaram a ilha nas primeiras décadas do regime de Castro, e consideram as viagens a Cuba como uma traição às vítimas da revolução.

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A mãe de Gorordo tinha dois tios, um dos quais apoiou a revolução e permaneceu em Cuba, enquanto o outro combateu os comunistas e foi preso antes de se seguir para os Estados Unidos. No entanto, quando Gorordo se encontrou, enfim, com seus parentes na ilha, ele descobriu que o cisma não era tão profundo quanto temia. Ele viu fotos dele próprio e de sua família na Flórida enviadas a Cuba por seu tio exilado que havia discretamente mantido vínculos por meio de cartas e pacotes. 

Aí, seu primo de 13 anos entrou na sala trajando uma roupa familiar. “Ele não só se parecia comigo e falava como eu, como estava usando as minhas roupas”, lembra Gorordo. Após essa visita, Gorordo fundou a Roots of Hope (Raízes da Esperança), um grupo não partidário de jovens que promove a aproximação com a ilha.

Além do interesse humano, essas histórias têm um significado político nacional. Mais de uma eleição presidencial possivelmente foi decidida pela comunidade de 2 milhões de cubanos nos Estados Unidos, que são mais conservadores do que outros hispânicos e vivem em sua maioria no Estado da Flórida. Desde a Guerra Fria, os cubanos têm desfrutado de direitos automáticos de asilo político e residência permanente no momento em que põem os pés em território americano. Isso fez deles uma espécie de elite ressentida entre os hispânicos.

O grupo de Gorordo evita comentar publicamente sobre a decisão do presidente Barack Obama, em dezembro, de buscar reatar laços diplomáticos com Cuba e afrouxar as barreiras a viagens e ao comércio com a ilha (somente o Congresso pode levantar totalmente o embargo cubano que já dura 55 anos). O que ele dirá, com convicção, é que a política para Cuba dos EUA é menos frequentemente uma questão que baliza a decisão eleitoral de seus jovens membros. 

Nas eleições presidenciais de 2016, é pouco provável que os cubano-americanos jovens apoiem os republicanos

Pesquisas de opinião sugerem que a maior aproximação com Cuba é apoiada por uma grande maioria de cubano-americanos jovens e pelos que foram para o exílio depois da crise econômica cubana do início dos anos 90. Alejandro Barreras, um executivo do meio publicitário, saiu de Cuba em 1992. Ele não sente nenhum amor nem pelo regime de Castro, nem pelos linhas-duras da velha guarda na Flórida que reclamam que o dinheiro investido em Cuba sustenta o regime. Barreras discorda. “No longo prazo, a atividade econômica privada torna as pessoas menos dependentes do Estado cubano”, diz.

Os políticos da Flórida estão se adaptando. Carlos Giménez, o prefeito republicano centrista de 61 anos do Condado de Miami-Dade, não visita sua terra natal cubana desde que saiu, em 1960. No entanto, ele não condena eleitores que viajam à ilha para ajudar parentes.

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As reações de políticos locais ao plano presidencial se situam em três campos gerais. Os linhas-duras são contrários a “premiar” o regime de Castro com negociações de qualquer tipo. Os liberais apoiariam um fim unilateral do embargo. Um campo intermediário (que inclui Giménez) não alega exatamente que o embargo funcionou, mas acusa Obama de oferecer concessões sem qualquer garantia de reformas em Cuba.

Nas eleições presidenciais de 2016, será menos provável que os cubano-americanos jovens apoiem os republicanos, mas os conservadores mais velhos possivelmente os apoiarão. Somente cerca de um terço dos cubanos que chegaram desde os anos 90 progrediu da residência para a cidadania plena. 

Ao mesmo tempo, o voto cubano se tornou mais diluído em razão do afluxo de outros grupos étnicos. Com sorte, as relações com Cuba poderão deixar de ficar reféns da política doméstica americana e se tornar apenas mais um aspecto de sua política externa. 

© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR CELSO PACIORNIK. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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