NOVA YORK - Cem dias depois de ter o primeiro caso de coronavírus confirmado, a cidade de Nova York, que enfrentou veio a ser o epicentro da pandemia, dá os primeiros passos para reabrir nesta segunda-feira, 8. Chegar ao resultado demandou o sacrifício de milhões de pessoas que aprenderam a viver vidas radicalmente diferentes. Mais de 205 mil foram infectados e quase 22 mil morreram.
Cerca de 400 mil trabalhadores retornam aos trabalhos na construção civil, em fábricas e em lojas de varejo na primeira fase de reabertura da cidade - um cenário que parecia quase inconcebível semanas atrás, quando os hospitais da cidade estavam abarrotados e até 800 pessoas estavam morrendo de covid-19 em um único dia.
Muitas lojas de varejo, atingidas por meses de fechamento, estão prontas para fazer negócios novamente. As empresas de construção estão adicionando recursos de segurança e estocando máscaras e luvas. Fabricantes, cujas lojas estão paradas desde março, estão testando máquinas.
Autoridades estaduais e municipais disseram estar otimistas de que a cidade comece a voltar à vida. Os testes são numerosos - cerca de 33 mil pessoas por dia. Agora, as novas infecções caíram para cerca de 500 por dia - metade das registradas apenas algumas semanas atrás.
"O início de qualquer programa é desafiador", disse Jay Varma, consultor do prefeito democrata Bill de Blasio em saúde pública. "Mas as pessoas estão dispostas a participar e a fornecer informações sobre suas condições de saúde e sobre seus contatos próximos". Ainda assim, um salto nos casos pode sobrecarregar o sistema, como aconteceu no início da pandemia em Nova York em março.
As autoridades estão observando os dados de perto: desde novos testes positivos a informações sobre pronto-socorros para identificar qualquer sinal de que a curva de infecção recém-achatada possa estar voltando a subir novamente.
O trabalho de rastreamento de contatos ganhou nova urgência por causa das manifestações públicas causadas pela morte de George Floyd, um homem negro morto em Minneapolis em 25 de maio por um policial branco.
Reabertura
O caminho de volta será sem dúvida desafiador. Mais de 885 mil empregos foram perdidos durante o surto, e fortes ganhos não são esperados para a cidade até 2022. O orçamento da cidade perdeu arrecadação tributária e enfrentará déficit de US$ 9 bilhões no próximo ano.
E a reabertura foi dificultada pelos vastos protestos pela justiça racial que varreram a cidade por mais de uma semana e forçaram funcionários do governo e empresários a ajustar inesperadamente seus planos.
"Estávamos planejando fazer muito barulho dizendo: 'Ei, estamos de volta'", disse Ken Giddon, co-proprietário da Rothmans, uma pequena cadeia de roupas perto da Union Square. "Agora, não achamos que isso seria apropriado. Nova York precisa de uma semana ou duas de cura antes de uma semana ou duas de vendas".
Na construção civil, cerca de 32 mil canteiros de obras reabriram. Os protestos não estavam mudaram os preparativos, disse Gary LaBarbera, presidente do Conselho de Construção e Comércio da Grande Nova York.
LaBarbera, cujo grupo representa sindicatos para mais de 100 mil trabalhadores, disse que seu foco era garantir a segurança quando os funcionários retornassem ao trabalho, com máscaras e equipamentos de proteção disponíveis e locais de construção reconfigurados para permitir distanciamento, exames de saúde e lavagem das mãos.
Transporte
Mesmo antes dos protestos, algumas autoridades de saúde pública estavam preocupadas com o fato de que o cronograma estabelecido pelo governador Cuomo e pelo prefeito Blasio era ambicioso demais. Eles temiam que as infecções pudessem aumentar à medida que as pessoas retornassem ao trabalho e os passageiros começaram a pegar o metrô novamente.
Mas a Autoridade Metropolitana de Transportes não acredita que a hora do rush voltasse significativamente na segunda - ou nos próximos dias. Mesmo quando as escolas e a Broadway tiverem permissão para abrir na quarta e depois na última fase da reabertura, a projeção é de um número de ocupação abaixo de 70%.