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Nova York tem um dia sem mortes e vira vitrine do sucesso da vacinação

Cidade, que já foi o epicentro da pandemia nos EUA, também registrou uma queda de 95% no número de novos casos; no país, o número de mortes por 100 mil habitantes caiu para 0,68

Foto do author Beatriz Bulla
Por Beatriz Bulla , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - As imagens de Nova York voltaram a estampar as notícias sobre a pandemia nos EUA. Agora, em vez de fotos de caminhões frigoríficos usados para armazenar corpos de vítimas da covid-19, as informações sobre a cidade são ilustradas por cenas de estádios e parques lotados.

Serviço de vacina gratuito no Queens, em Nova York Foto: Spencer Platt / AFP

Nova York virou uma vitrine do sucesso da vacinação nos EUA ao comemorarqueda de 95% no número de casos por covid-19 e 24 horas sem nenhuma mortecausada pelo coronavírus. A marca não era vista desde meados de março de 2020, quando o vírus começou a se espalhar no país. “É impressionante ver o progresso realizado”, celebrou publicamente o prefeito, Bill de Blasio, que tem lançado campanhas de incentivo à vacinação, como a de ganhar duas semanas de graça no serviço de bicicletas de aluguel.

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Os dados de Nova York estão em linha com o panorama nacional de redução dos doentes diante do aumento de vacinados. A média móvel de casos de covid-19 nos EUA cai vertiginosamente desde meados de abril, fruto da campanha de vacinação. Até agora, 63% dos adultos americanos receberam pelo menos uma dose das três vacinas disponíveis para aplicação. Em 12 dos 50 Estados, o número chega a 70%.

Nesta semana, os EUA registraram em média de 14,3 mil casos diários de covid-19, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). O número é o mais baixo desde 24 de março de 2020, dia em que a Organização Mundial da Saúde alertou que o país seria o novo epicentro do coronavírus. Na época, a curva de casos – e mortes – de covid-19 só crescia. Os EUA já registraram, em um único dia, 306 mil novos casos de covid-19.

As mortes também despencaram no país. Em janeiro, a cada 100 mil habitantes, 7,5 morriam de covid na média móvel semanal. As vacinas começaram a ser aplicadas em meados de dezembro, mas restritas a profissionais de saúde em um primeiro momento. Mas desde a metade de abril qualquer pessoa que queira pode ser vacinada nos EUA. Como consequência, o número de mortes por 100 mil habitantes passou para 0,68.

Com 331 milhões de habitantes, os EUA tiveram cerca de 400 mortes por dia na última semana em razão do vírus. No pico da primeira onda, em abril de 2020, o número de óbitos diário chegou 2,7 mil. No início de janeiro, bateu 4,1 mil.

Em abril, só a cidade de Nova York chegou a registrar mais de 1 mil mortos por dia. A cidade tem a maior densidade populacional dos EUA, um desafio para as políticas de distanciamento social, e virou o epicentro da pandemia no país. As ruas agitadas de Manhattan deram lugar ao silêncio e ao vazio.

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Agora, restaurantes, bares, eventos esportivos, shows, teatros passaram a operar em capacidade máxima. Com mais de 57% dos adultos “totalmente vacinados” – que significa ter recebido as duas doses necessárias para imunização no caso das vacinas da Pfizer e da Moderna – a cidade continua a ver queda nos casos, mesmo com relaxamento de medidas de prevenção.

“Nosso programa de vacinação bem-sucedido não está apenas salvando dezenas de milhares de vidas. Está também permitindo que dezenas de milhões de americanos voltem a viver suas vidas”, disse Jeff Zients, coordenador da resposta da Casa Branca à pandemia.

O presidente dos EUA, Joe Biden, colocou o dia 4 de julho como meta para a volta à normalidade no país. O democrata quer que a celebração do Dia da Independência torne-se o marco da virada de página na pandemia. Para isso, a Casa Branca pretende vacinar 70% dos adultos com pelo menos uma dose de vacina. O número ainda não coloca os EUA em patamar considerado confortávelpara falar em imunidade coletiva – o que exigiria ao menos 70% de imunizados na população total, que inclui as crianças e adolescentes. Mas, mesmo antes disso, a vida para os vacinados nos EUA tem mais semelhanças com a de antes do surgimento do coronavírus. Os vacinados de todo o país foram liberados de usar máscaras nos lugares ao ar livre e também na maioria dos ambientes fechados.

Família janta em restaurante em Nova York. Foto: Jeenah Moon/Reuters

"É mais uma demonstração do que a ciência tem nos dito nos últimos meses. As vacinas são efetivas em prevenir o vírus da covid-19 de nos infectar. E quanto mais pessoas estiverem vacinadas, mais rápido podemos retomar nossas atividades", disse Vivek Murthy, cirurgião-geral dos Estados Unidos, em uma entrevista à CNN. No último final de semana, no primeiro feriado após a ampliação da vacinação, os aeroportos americanos tiveram o movimento mais alto desde março de 2020: 7 milhões de americanos viajaram de avião. Em Washington, capital americana, o número de mortes por covid-19 tem ficado em um dígito. As filas para casas noturnas e bares voltaram a fazer parte das noites da cidade. O desafio do governo americano é garantir que Estados que estão atrás na vacinação consigam imunizar moradores. Enquanto as costas leste e oeste dos EUA estão avançadas nesse processo, o sul e o interior do país estão para trás.

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"Não quero ver o país, que já está muito dividido, se dividir de uma nova forma - entre lugares onde as pessoas vivem sem medo da covid e lugares que, no outono, voltarão a ter morte e doenças graves", disse Biden, nesta semana, ao lançar uma campanha para acelerar a imunização em junho, com incentivos privados e públicos que incluem, por exemplo, dia de creche grátis a pais que precisarem deixar os filhos para se vacinar.

Portugal e Reino Unido também não registram mortes

Na Europa, Portugal e Reino Unidotiveramum dia nesta semana sem nenhum morto pela primeira vez em meses. Israel teve apenas uma morte por dia na última semana. Todos os países estão com a vacinação avançada e já estão voltando à normalidade.

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Os serviços de saúde do Reino Unido não registraram nenhuma morte por coronavírus na terça-feira – a primeira vez desde 30 de julho de 2020 que há um período de 24 horas sem mortes. Mas o país se preocupa com o aumento de infecções pela variante inicialmente detectada na Índia, pois os novos casos duplicaram na última semana, apesar do avanço da vacinação.

Pessoas se reúnem em Londres após flexibilizações na quarentena da pandemia Foto: Henry Nicholls/Reuters

É comum que os números dos primeiros dias da semana sejam baixos por atrasos nos registros, e segunda-feira foi feriado no Reino Unido. Ainda assim, o dia sem mortes é uma boa notícia para o país, que é um dos que têm grandes números de mortos na Europa (são cerca de 128 mil).

A redução no número de mortos é vista como resultado de uma campanha de vacinação em massa lançada em 8 de dezembro que permitiu administrar uma primeira dose em mais de 39 milhões de pessoas (74,9% da população adulta) e uma segunda em mais de 25 milhões (48,9%).

Depois de um terceiro confinamento no inverno no Hemisfério Norte, o Reino Unido está levantando progressivamente as restrições. No entanto, a última etapa desse processo de volta à vida normal está ameaçada pelo auge da variante do coronavírus detectada originalmente na Índia – denominada pela Organização Mundial de Saúde como Delta. O país contabilizou ontem 11 mortos e 6.238 novas infecções, o que leva o total a quase 4,5 milhões de casos e 12.086 mortos.

Na segunda-feira, Portugal registrou 609 novos casos de covid – o número mais alto em um mês –, mas nenhum morto. Desde o início da pandemia, Portugal soma 847 mil casos e 17.022 mortos.

Na União Europeia, um terço das pessoas já recebeu pelo menos uma dose (33%); o dobro do continente sul-americano (15%), seis vezes mais que na Ásia (5%) e 20 vezes mais que na África (1,5%).