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Nove dias de luto são controlados pelo regime

Muitos bares e restaurantes deixaram de vender bebidas alcoólicas, mas não estava claro se obedeciam a uma determinação oficial ou a uma orientação informal propagada nas ruas da cidade

Por Cláudia Trevisan , HAVANA e CUBA
Atualização:

HAVANA - Em um país onde o governo controla 80% da economia e emprega um porcentual semelhante dos trabalhadores, o luto é administrado pelo Estado. Assim que a morte de Fidel Castro foi anunciada, policiais determinaram o fechamento de danceterias e casas de espetáculo onde cubanos e turistas se reuniam na madrugada de sábado.

A apresentação que o tenor Placido Domingo faria no fim de semana foi cancelada e a música que marca o cotidiano de Havana deixou de ser ouvida. As medidas vão vigorar por nove dias, período oficial de luto decretado pelo governo. 

Estudantes acendem velas por Fidel na Universidade de Havana Foto: AFP PHOTO / Yamil LAGE

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Muitos bares e restaurantes deixaram de vender bebidas alcoólicas, mas não estava claro se obedeciam a uma determinação oficial ou a uma orientação informal propagada nas ruas da cidade. Por garantia, muitos seguiram a sugestão, com medo de que acabassem desrespeitando a memória de Fidel ou fossem multados.

Mídia. Os canais de televisão e as rádios estatais suspenderam suas programações normais e passaram a transmitir de maneira incessante documentários sobre Fidel e reprises de seus discursos.

A maior manifestação popular em homenagem ao líder ocorrerá hoje e amanhã na Praça da Revolução, o grande símbolo do movimento que chegou ao poder em 1959. Foi lá que Fidel fez seus principais pronunciamentos – é, ainda, o local onde são realizados os desfiles militares e celebradas as principais datas. O local é marcado pelas imagens estilizadas dos rostos de Camilo Cienfuegos e Che Guevara, revolucionários que lutaram na guerrilha que levou à queda do regime de Fulgencio Batista.

As milhares de estatais e outras entidades ligadas ao governo organizarão caravanas de funcionários para assinar o livro de condolências na Praça da Revolução, onde operários trabalhavam ontem na montagem de uma tribuna e na instalação de um sistema de som. “Nós iremos à Praça da Revolução para apoiar o conceito de revolução de Fidel. Nós amamos e continuaremos a amar Fidel”, disse Roberto Hernandez Peres, de 57 anos e funcionário público, como a maioria dos cubanos.

Rito. Obedecendo à vontade de Fidel, seu corpo foi cremado no fim de semana e as cinzas ficarão em Havana hoje e amanhã. Na quarta-feira, será iniciado o transporte delas para Santiago de Cuba, a cidade onde o líder cubano declarou a vitória da Revolução no dia 1º. de janeiro de 1959. 

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O trajeto de pouco mais de 800 km será percorrido em quatro dias, durante os quais a população da zona rural e de pequenas cidades poderá prestar a última homenagem a Fidel. O trajeto será o inverso do percorrido pelo líder em direção a Havana desde a Sierra Maestra. 

As cinzas do revolucionário serão depositadas no domingo no cemitério Santa Ifigênia, onde está enterrado José Martí, o herói nacional que lutou pela independência de Cuba no século 19.

Vigilância. O policiamento nas ruas de Havana foi reforçado desde o anúncio da morte de Fidel e havia viaturas em locais estratégicos da cidade, entre os quais a igreja na qual as militantes do grupo dissidente Damas de Branco costumam realizar sua marcha dominical contra o governo. 

Ontem, nenhuma delas estava no local. A líder do movimento, Berta Soler, disse por telefone à reportagem que as casas da maioria das damas amanheceram cercadas pela polícia. Ainda assim, ela afirmou que o grupo já havia definido não realizar qualquer tipo de manifestação de rua na cidade durante os dias de luto oficial. “Decidimos não fazer a marcha para não parecer uma provocação e porque não comemoramos a morte de ninguém, nem mesmo a de um ditador.”

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