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Novo premiê assume o poder no Japão com desafio de retomar crescimento

Shinzo Abe promete ampliar gastos públicos e desvalorizar iene para reativar economia, mas analistas temem efeitos colaterais.

Por Puneet Pal Singh
Atualização:

Os japoneses gostam de lembrar uns aos outros que promessas feitas de forma apressada ou "no calor do momento" não são confiáveis. Por isso, agora todos acompanham com atenção os passos de Shinzo Abe, que acaba de ser nomeado pelo Parlamento do Japão para ser o novo primeiro-ministro do país. O partido de Abe venceu as eleições com uma promessa que os eleitores parecem ter levado a sério: fazer a cambaleante economia japonesa voltar a crescer. Sua proposta é gastar o que for necessário para alcançar esse objetivo - o que parece ter sido decisivo para a votação, após décadas de estagnação em que o Japão perdeu para a China o posto de maior economia da Ásia. Trata-se da segunda vez que Abe assume o cargo (ele foi primeiro-ministro entre 2006 e 2007). Mas mesmo antes da posse já havia muitos questionamentos sobre sua capacidade de cumprir as metas estabelecidas durante a campanha. Deflação Uma dessas metas é uma inflação de 3%. A taxa pode parecer razoável para muitos países da região, mas no Japão a situação é outra. O país tem lutado por quase uma década contra um problema de deflação (queda de preços), que dificulta os esforços do governo para ampliar a demanda doméstica. Como os preços dos produtos caem, consumidores japoneses costumam adiar suas compras na esperança de conseguir um preço menor mais tarde. O Banco do Japão (o Banco Central japonês) havia definido a meta de 1% de inflação para ser alcançada no ano fiscal de 2014-15. Para alcançar sua meta mais ambiciosa, de 3%, Abe propõe que o BC japonês imprima uma quantidade "ilimitada" de ienes. A ideia é que, com mais dinheiro em circulação, todos terão mais dinheiro no bolso e gastarão mais. Mas, para alguns analistas, apesar de o Japão de fato precisar combater a queda dos preços, um salto repentino da inflação pode ser prejudicial para a economia do país. "Com uma inflação de 3%, as empresas precisarão aumentar os salários", diz Yuuki Sakurai, presidente-executivo da Fukoku Capital Management. Para ele, tal aumento poderia prejudicar a competitividade das empresas locais, em um momento em que elas estão perdendo terreno para concorrentes regionais. "Abe não está plenamente consciente das implicações de sua proposta", opina Sakurai. Iene mais fraco Outra promessa de Abe é desvalorizar o iene (a moeda japonesa), cuja apreciação, nos últimos anos, tornou as exportações do país mais caras para os compradores estrangeiros e pressionou o lucro dos exportadores. Entre abril de 2011 e novembro de 2012, por exemplo, o iene se valorizou 6% em relação ao dólar. Mas por causa das promessas de Abe de estimular o consumo, desde então, o valor do iene já caiu quase os mesmos 6%. A questão é que, enquanto um iene fraco é uma boa notícia para os exportadores, uma queda drástica do valor da moeda japonesa também pode criar uma série de problemas - como, por exemplo, a alta dos preços da energia importada, como petróleo e gás natural. O Japão teve de aumentar a sua importação de energia depois da tragédia nuclear que se seguiu ao tsunami do ano passado e obrigou o país a desligar todos os seus reatores nucleares. Com um iene mais fraco, como o proposto por Abe, os custos mais altos da energia importada provavelmente terminariam sendo repassados para empresas e consumidores, o que poderia reduzir sua disposição em gastar. Expansão monetária Outra proposta de Abe é fazer com que o Banco do Japão adote uma série de medidas expansionistas para estimular a economia, como a compra de títulos do governo. Abe quer aumentar os gastos do governo em infraestrutura e obras públicas e defende a compra de títulos públicos pelo BC para ajudaria financiar essa expansão. Analistas, porém, alertam para os efeitos que essa venda de títulos poderia ter sobre a dívida pública japonesa. "A dívida pública do país começaria a se desvalorizar e isso criaria novos problemas, incluindo um aumento dos custos de empréstimos para o governo", avalia Martin Schulz, do Fujitsu Research Institute. "Boa parte da dívida do Japão está indiretamente nas mãos das famílias japonesas, por meio de bancos do país e fundos de pensão", diz Schulz. "Qualquer desvalorização da dívida pública acabaria por significar uma desvalorização dos ativos dessas famílias." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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