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Novo premier quer se aproximar da China e da Coréia do Sul

Templo japonês em homenagem a combatentes, sendo alguns considerados criminosos de guerra, é o centro do mal-estar entre os dois países e o Japão

Por Agencia Estado
Atualização:

O conservador premier do Japão, Shinzo Abe, está pronto para conversas sobre questões importantes com a China e a Coréia, segundo afirmou seu porta-voz, no primeiro dia de Abe como premier, nesta quarta-feira. Enquanto isso, o otimismo em relação ao novo líder fez as ações subirem em Tóquio. Uma pesquisa indica que 65% dos japoneses aprovam o novo gabinete. O novo secretário-chefe de gabinete, Yasuhisa Shiozaki, disse nesta quarta-feira que Abe quer se encontrar com o líder chinês, ou com o sul-coreano, para tentar resolver questões importantes, inclusive disputas territoriais e o mal-estar criado em razão de visitas oficiais a um templo de guerra em Tóquio. "Nós dois entendemos que devemos trabalhar para manter importantes conversas o quanto antes", disse Shiozaki. "É necessário que os dois lados façam um esforço". No entanto, Shiozaki disse que ainda não há planos para as negociações. Desde o ano passado o presidente chinês se recusa a falar com seu antecessor, Junichiro Koizumi, pois o ex-premier visitou diversas vezes o templo de guerra Yakusuni, que homenageia criminosos de guerra, entre outros japoneses mortos em guerras. A China e a Coréia do Sul - ambas colonizadas de forma brutal pelo Japão no último século - dizem que o templo glorifica o passado militar do Japão. Na terça-feira, o porta-voz do ministro do Exterior chinês Qin Gang exortou Abe a buscar laços bilaterais, e fez uma referência indireta ao templo de guerra como a razão para os problemas entre os dois. Em Seul, o vice-ministro do Exterior da Coréia do Sul, Lee Kyu-hyung, disse a repórteres nesta quarta-feira esperar que Tóquio faça esforços "sinceros e ativos" para melhorar as relações entre os dois países. "Acho que há uma sensação crescente em ambos os lados de melhorar as relações entre o Japão e a China, e o Japão e a Coréia do Norte", disse Shiozaki, acrescentando que boas relações são "o pilar da estabilidade" no leste asiático. Relações com a China são prioridade do novo governo A primeira missão da política externa fixada pelo novo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, é normalizar a partir desta quarta-feira as relações do Japão com a China, seu maior parceiro comercial, que ainda se ressente dos rasgos nacionalistas do chefe de Governo anterior, Junichiro Koizumi. Abe chega ao poder como o governante japonês mais jovem do pós-guerra e herda uma economia forte, com indicadores em alta. Mas a dívida pública não tem precedentes no mundo industrializado. O primeiro-ministro é conhecido pelas idéias conservadoras e por simpatizar com o nacionalismo de Koizumi, que provocou a indignação chinesa com repetidas homenagens ao militarismo japonês do século passado. Por isso, a primeira tarefa é tentar acalmar um vizinho ressentido no plano político mas que tomou o lugar dos Estados Unidos como primeiro parceiro comercial. O crescente intercâmbio de bens e serviços entre os dois países passa ao largo das disputas territoriais que afetam os interesses energéticos. A prospecção no Mar da China Oriental, onde fica uma jazida de gás chamada de Chunxiao, pela China, e Shirakaba, pelo Japão, é o foco de um confronto diplomático. A divergência sobre a linha divisória das águas territoriais pode causar um conflito cujas conseqüências são temidas pelos analistas, que chegaram a propor a assinatura de um "Acordo de Incidentes no Mar", similar de 1972 entre EUA e União Soviética. Além da disputa pelas ilhas Diaoyu (nome chinês) ou Senkaku (para os japoneses), o Japão se preocupa com o aumento do orçamento militar da China. Principalmente porque ajuda no desenvolvimento chinês, com uma verba que em 2004 chegou a US$ 827 milhões. Outro assunto problemático na relação política bilateral é Taiwan, ilha considerada pela China como uma província rebelde e cujos cidadãos receberam durante a administração Koizumi isenção de vistos para fazer turismo no Japão. O intercâmbio comercial entre Japão e China subiu 12,7% em 2005 em relação ao ano anterior, atingindo o recorde de US$ 189,34 bilhões, após sete anos seguidos de crescimento. Em 2006, a expectativa é de um volume de intercâmbio bilateral de mais de US$ 200 bilhões, apesar da previsível redução de exportações japonesas para a China à medida que os fabricantes japoneses aumentam sua produção no país. A estratégia diplomática de Abe está encaminhada. No fim de semana passado, três dias antes de ele ser eleito primeiro-ministro, um comitê bilateral se reuniu na capital japonesa para estudar a possibilidade de uma cúpula. O encontro com o presidente da China, Hu Jintao, pode acontecer na primeira quinzena de outubro ou durante o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), no Vietnã, em novembro. Os analistas prevêem além disso que com Abe as demonstrações nacionalistas serão menos freqüentes. Eles destacam a ambigüidade do novo primeiro-ministro a respeito das visitas ao santuário de Yasukuni. Entre os fatores prejudiciais a Abe está a manutenção do ministro de Relações Exteriores de Koizumi, Taro Aso, outro nacionalista impetuoso. Seus deslizes verbais incluem uma referência à China como "um vizinho com 1 bilhão de pessoas equipado com bombas nucleares". O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, enviou nesta quarta-feira uma mensagem a Abe, reforçando a sua vontade de melhorar os laços bilaterais, segundo um comunicado divulgado pelo site do governo chinês. Em sua mensagem a Abe, o dirigente chinês expressou a vontade de seu governo de manter "relações de boa vizinhança, amistosas e de cooperação". "Quero me esforçar de forma contínua junto com o senhor" para conseguir esse objetivo", disse Wen. Segundo Takao Toshikawa, editor da revista Tokyo Insideline, a pouca destreza na política internacional é o ponto fraco de Abe. Assim, reunir-se com Hu Jintao será uma ação urgente para reforçar sua imagem de estadista.

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