25 de outubro de 2016 | 08h17
GENEBRA - O ano de 2016 baterá um novo recorde e registrará o maior número de mortes no Mar Mediterrâneo entre imigrantes e refugiados que tentam chegar ao continente europeu. Os dados foram apresentados nesta terça-feira, 25, pela ONU, que se diz “alarmada pela alta taxa de mortalidade” nas últimas semanas.
Faltando ainda dois meses para o fim do ano, o número de vítimas chega a 3.740, contra 3.771 registrados em 2015. “Essa é a pior situação jamais vista”, disse o porta-voz da entidade, William Spindler. Segundo a ONU, as taxas de 2015 serão superadas "em questão de dias".
O que preocupa a entidade é que a alta nas mortes ocorre mesmo com uma queda significativa no número de estrangeiros que chegam à Europa. Em 2015, mais de 1 milhão de pessoas cruzaram o mar. “Neste ano, até agora, o número é de 327,8 mil”, disse Spindler.
Mas o risco de que a viagem não termine é maior. Em 2015, para cada 269 imigrantes que chegavam ao outro lado do mar, um morria. Agora, a taxa é de um para cada 88. Se considerado apenas o trecho de mar entre a Líbia e o sul da Itália, o risco é ainda maior. Para cada 47 pessoas que chegaram ao outro lado, uma morreu afogada.
O aumento no número de mortes tem vários motivos. Com o fechamento das fronteiras entre a Turquia e Grécia e um acordo entre Ancara e Bruxelas, a principal rota de imigração passou a ser entre o norte da África e a Itália, um trecho mais perigoso e mais longo.
Outro fator está relacionado com a constatação de que contrabandistas estão usando barcos cada vez mais frágeis para transportar imigrantes pelo mar. De acordo com os levantamentos, essas embarcações – algumas infláveis – não têm aguentado as tempestades.
As táticas dos grupos criminosos também mudaram, com embarcações cada vez mais lotadas. “Isso tem a ver com uma mudança no modelo de negócios dos contrabandistas”, explicou Spindler.
Para a ONU, salvar essas vidas é possível. Mas, para isso, governos terão de mudar suas políticas de asilo. A entidade sugere que a União Europeia adote medidas para incentivar o uso de corredores regulares para refugiados. “Isso inclui reassentamentos, vistos humanitários, reunificação de famílias, patrocínio privado e vistos de trabalho e para estudantes”, declarou Spindler.
Na avaliação da ONU, a alta taxa de mortes também é um “recado sobre a importância de manter as operações de resgate”. Sem elas, a entidade estima que o número de mortes seria ainda maior.
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