O botox deTrump no Nafta

Até agora, mexicanos, americanos e canadenses reviram apenas 6 dos 30 capítulos de revisão no acordo

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Por Helio Gurovitz
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Duas eleições aceleraram a renegociação do Nafta, promessa da campanha de Trump. Temendo perder o controle do Congresso em novembro, os republicanos precisam que um novo acordo esteja pronto até o fim de maio para tramitar ainda este ano. Do lado mexicano, a perspectiva de vitória do populista Andrés Lopez Obrador  na eleição de julho contribui para o interesse em apertar o passo.

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Até agora, mexicanos, americanos e canadenses reviram apenas 6 dos 30 capítulos. Mesmo assim, acreditam ser possível apresentar um esboço do novo acordo até o fim do mês. O governo Trump abriu mão da exigência de que, para vender um carro no mercado americano, pelo menos metade das autopeças sejam fabricadas nos Estados Unidos. Aceita que as montadoras as comprem de fábricas com nível salarial compatível ao americano. O Canadá aceitaria, o México ainda resiste.

O esboço mantém a isenção de tarifas ao aço e ao alumínio. Ao final, o mais provável é que a revisão tenha caráter cosmético, como um botox. Isso se Trump não desistir. O Nafta é uma de suas principais bandeiras nacionalistas para atacar os mexicanos. Não está descartado o risco de revogação.

'Post’ é o alvo do ataque à Amazon Os ataques de Trump à Amazon têm como alvo outra empresa de Jeff Bezos: o Washington Post. Trump sabe que a melhor forma de atingir adversários na imprensa é prejudicar seus negócios. Foi o que fez quando se opôs à fusão da AT&T com a Time Warner, dona da CNN. Ao mesmo tempo, favorece aliados como a rede de TVs locais Sinclair, que precisa de aprovação do governo para comprar novas retransmissoras.

O acordo nuclear com o Irã perto do fim A declaração de apoio a Israel feita pelo príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, foi um recado ao Irã. Próximo do genro de Trump, Jared Kushner, MBS articulou com ele uma guinada na política americana para o Oriente Médio. Ela envolveu o apoio a sua ascensão na linha de sucessão ao trono, a perseguição a seus parentes, o reconhecimento de Jerusalém como capital israelense, o bloqueio ao Catar e a investida contra forças apoiadas pelo Irã no Iêmen. É esperada para maio a saída definitiva dos americanos do acordo nuclear.O que Jared Kushner tem contra o Catar Antes da eleição de Trump, o pai de Jared , Charles Kushner, pediu financiamento ao Catar para reerguer um de seus maiores – e mais deficitários – empreendimentos imobiliários, na Quinta Avenida, em Nova York. Queria US$ 1 bilhão, ouviu “não”. “Se tivessem dado o dinheiro, teria havido o bloqueio contra o Catar?”, pergunta Dexter Filkins na New Yorker.

Depois do ‘Brexit’, vem aí o ‘Quitaly’? O poder dos eurocéticos no próximo governo italiano transformará a União Europeia (UE) mais que o Brexit. Se houver aliança entre Liga e Movimento 5 Estrelas, a ameaça óbvia é a saída italiana do euro, apelidada “Quitaly”. Apenas um dos dois partidos no governo bastaria para aumentar a pressão por mudanças em seguro-desemprego, leis de imigração e regras de endividamento. “Se não governarem juntos, o primeiro a negociar com a UE poderá argumentar que, se falhar, o próximo será pior”, diz o economista Luigi Zingales, da Universidade de Chicago. A UE já prepara concessões, pois não resistiria a uma crise italiana nos moldes da grega.O matemático que foi da entropia à utopia Cédric Villani, representante na Assembleia Nacional francesa do 5.º distrito eleitoral de Essonne, na região parisiense, é mais conhecido por proezas matemáticas que políticas. Recebeu a medalha Fields, em 2010, por pesquisas ligadas à equação de Boltzmann, base do conceito de entropia. Usa cabelos longos, ternos e gravatas bufantes, estilo século 19, acompanhadas de broches de aranha na lapela. É o principal assessor do presidente Emmanuel Macron para ciência e tecnologia. Defende uma revisão na Constituição e acredita que, graças à profusão de matemáticos, a França será uma potência da inteligência artificial. É utopia. O ambiente de negócios francês é engessado, resistente ao capital e está longe do dinamismo não só do Vale do Silício, mas até mesmo da vizinha Alemanha.

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