O declínio da chanceler

Após derrota na eleição de Hesse, posição de Angela Merkel se tornou insustentável

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Por THE ECONOMIST
Atualização:

O resultado da eleição regional de Hesse foi um duro golpe para o partido de Angela Merkel, mesmo não tendo sido tão catastrófico como muitos temiam. O CDU (Democrata-cristão) obteve 27% dos votos, o que lhe dá o direito de formar o governo. E o aliado de Merkel, o atual governador, Volker Bouffier, deve se manter no cargo.

Chanceler alemã tenta manter sua base de governo Foto: AP Photo/Ferdinand Ostrop

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Mesmo assim, o CDU perdeu 11,3 pontos porcentuais em comparação com 2013. Assim, Merkel decidiu não se candidatar à reeleição como líder de seu partido em dezembro. Embora permaneça no cargo, a presidência do partido está ligada à função de chanceler.

Os social-democratas (SPD) perderam ainda mais, conquistando 19,8% dos votos, queda de 11 pontos, o pior desempenho desde 1946 em Hesse. Como ocorreu na Baviera, duas semanas antes, o grande vitorioso foi do Partido Verde, que deve formar o governo com o CDU – embora, diante das perdas dos conservadores, possivelmente será formada uma coalizão de três partidos, com a junção dos liberais.

+ Cronologia: Os 13 anos de Angela Merkel à frente da Alemanha

O que é preocupante para Merkel é que não foi um voto de insatisfação. A economia de Hesse está em expansão e a aliança local é harmoniosa. Foi, na verdade, um tapa no rosto do governo central de Berlim. Os eleitores do Estado puniram os conservadores e o SPD por uma série de disputas e escândalos em nível federal. 

Os partidos da coalizão passaram grande parte do ano em disputas sobre imigração ou por cargos na capital. Os eleitores estão fartos e aproveitaram as eleições regionais para enviar uma mensagem. Agora, a pressão aumenta para que o SPD deixe a coalizão nacional, o que levaria à queda do atual governo com a convocação de novas eleições. Para a esquerda, o compromisso com os conservadores de Merkel vem destruindo o partido.

Na noite da eleição em Hesse, Andrea Nahles, líder do SPD, conversou com os jornalistas e disse que “a situação do governo não é aceitável e alguma coisa tem de mudar”. Afirmou ainda que iniciaria conversações sobre isso ontem, um sinal de que deseja evitar que o pânico tome conta do partido e não deixará a coalizão de imediato. Mas o ambiente está tão ruim que a possibilidade de um golpe contra Merkel não está descartada.

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Nem o SPD ou o CDU estão preparados para outra eleição. As pesquisas são pessimistas e questões envolvendo uma futura liderança não estão resolvidas. Foram necessários seis meses para formar uma coalizão após a eleição do ano passado e, desde então, o governo desperdiçou seu tempo se envolvendo em disputas internas. A avaliação é a de que os eleitores punirão qualquer político que crie mais paralisia, o que sugere que a coalizão de governo da Alemanha pode claudicar. 

No entanto, com a chanceler, ao que parece, plenamente consciente da fragilidade de sua posição e da insatisfação com sua segunda “grande coalizão”, a política alemã entra numa fase de grande incerteza. Depois de 13 anos, a era Merkel está chegando ao fim. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO  © 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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