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O desafio emocional de alunos e professores em voltar à escola da Flórida após massacre

No domingo, o colégio realizou uma sessão de ‘orientação’; aulas devem ser retomadas na quarta-feira; políticos republicanos pedem que xerife seja suspenso por ‘erros’ na resposta ao ataque

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Por Redação
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WASHINGTON - Estudantes e professores retornaram no domingo 25 à escola de Parkland, na Flórida, que foi cenário de um massacre no qual 17 pessoas morreram, com tentativas de consolo e o pedido por medidas enérgicas para acabar com os ataques com armas de fogo.

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Vários estudantes pediram nos últimos dias aos políticos americanos que enfrentem a questão da violência armada Foto: REUTERS/Angel Valentin

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"Imagine que você estava em um acidente de avião e tivesse de embarcar nele todos os dias e ir para algum lugar", afirmou ao programa This Week do canal ABC David Hogg, um dos sobreviventes do ataque de 14 de fevereiro executado por Nikolas Cruz, de 19 anos. "Não posso imaginar, emocionalmente, o que eu e meus colegas vamos passar durante o dia", disse Hogg.

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Vários estudantes pediram nos últimos dias aos políticos americanos que enfrentem a questão da violência armada. O colégio realizou no domingo uma sessão de "orientação". Professores e funcionários trabalharão nesta segunda, 26, e na terça-feira para o retorno das aulas na quarta-feira, uma perspectiva considerada "assustadora" e "intimidante".

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Uma das professoras contou à rádio NPR que o choque de voltar à sala de aula que estava do mesmo jeito do dia do ataque, com os cadernos nas mesas e o calendário ainda marcando 14 de fevereiro, foi tão intenso que ela deixou o local.

Delaney Tarr, outra jovem sobrevivente do massacre, afirmou que se prepara para o retorno. "É assustador porque não sei se vou estar segura lá. Mas eu sei que tenho de ir.” Cameron Kasky, no entanto, tuitou uma foto dos alunos no campus com a frase: "É bom estar em casa".

A escola Marjory Stoneman Douglas também recebeu o apoio de ex-alunos, que prepararam cartazes. "Tenho muitos amigos aqui comigo, e isto faz com que eu não me sinta sozinha nesta situação", disse Michelle Dittmeier ao canal ABC.

Diante das demandas dos estudantes para a adoção de medidas de controle para o porte de armas, o presidente americano, Donald Trump, defendeu na sexta-feira em Washington sua proposta de armar alguns professores. O governador da Flórida, Rick Scott, por sua vez, anunciou um plano de ação contra os ataques nas escolas que inclui a presença de oficiais armados em centros de ensino.

Pressão

Uma pesquisa da emissora CNN realizada uma semana depois do massacre mostrou uma tendência crescente dos americanos a favor de uma regulamentação rígida sobre a venda de armas e a proibição das semiautomáticas como o fuzil AR-15, usado por Cruz.

Um total de 70% dos entrevistados entre 20 e 23 de fevereiro se manifestaram a favor de controles mais estritos da venda de armas, contra 52% em uma pesquisa de outubro, após um massacre em Las Vegas que deixou 58 mortos.

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Em uma entrevista ao programa Fox News Sunday, o governador Scott, membro da Associação Nacional de Rifles (NRA), afirmou que sabe que "provavelmente teremos algumas divergências sobre as propostas. Mas quero que meu Estado esteja a salvo".

A porta-voz da NRA, Dana Loesch, disse à rede ABC no domingo que as autoridades locais já haviam sido alertadas em várias ocasiões nos últimos meses sobre o risco que Cruz representava, e o policial que supostamente deveria proteger os alunos não atuou no dia da tragédia.

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Dana acusou o gabinete do xerife local de "descumprimento da responsabilidade" por não ter prendido Cruz antes. Ao ser questionado sobre isso na CNN, o xerife Scott Israel defendeu o trabalho de seus colegas, indicando que, das 23 chamadas que a polícia recebeu sobre o comportamento errático ou ameaçador do jovem, quase todas foram tratadas corretamente. As outras foram alvo de uma investigação interna.

Já a presidente da Federação Americana de Professores, Randi Weingarten, qualificou a proposta de Trump de armar os professores "uma ideia muito ruim e ponto". Os alunos, seus pais e os professores "querem que as escolas sejam santuários de segurança para o ensino e o aprendizado, não fortalezas armadas", frisou.

Suspensão

Ainda no domingo, dezenas de legisladores republicanos pediram que Israel seja suspenso após os “erros" relacionados ao ataque. Em carta enviada a Scott, o presidente da Câmara da Flórida, Richard Corcoran, solicitou a suspensão do xerife por "incompetência e negligência do seu dever", em razão dos "erros" cometidos durante o massacre na Marjory Stoneman Douglas.

Corcoran afirmou que "são inaceitáveis e imperdoáveis" os erros ocorridos no dia 14, assim como não se ter abordado Cruz "nos anos, meses e dias prévios” ao ataque, quando deu sinais de conduta perigosa.

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O documento, assinado por 73 membros republicanos da Câmara dos Deputados, foi divulgado pouco depois que o governador ordenou ao Departamento de Aplicação da Lei da Flórida (FDLE, na sigla em inglês) uma investigação independente em torno da resposta policial durante o massacre na escola de Parkland.

O anúncio foi bem recebido pelo xerife, que em uma declaração escrita disse que o seu departamento cooperará totalmente com o FDLE e "esta revisão externa e independente assegurará a confiança pública nos trabalhos".

Nos últimos dias, Israel esteve no meio da polêmica após revelar que o agente de guarda no colégio, Scott Peterson, não entrou no edifício durante o ataque e permaneceu quatro minutos no lado de fora, uma descoberta que, segundo disse, lhe causou "decepção". / AFP e EFE

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