Após a queda de Mossul esta semana, especialistas em terrorismo, entre os quais Charlie Lister, da Brookings Institution, e Peter Neumann, do King’s College, sugerem que o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (Isil, na sigla em inglês), que tomou o controle da cidade, está perto de realmente se tornar o “Estado islâmico” implícito no seu nome.
Como observa Liz Sly no Washington Post, o Isil, que só surgiu há cerca de um ano, agora “governa efetivamente uma faixa territorial do tamanho de uma nação que se estende da borda oriental da cidade síria de Alepo a Faluja no Iraque ocidental - e agora também inclui a cidade iraquiana setentrional de Mossul”.
As estimativas sobre as forças do Isil variam de 7 mil a 10 mil. O grupo é focado menos na deposição do regime de Assad e mais na aplicação rigorosa de lei islâmica nas áreas que controla, assim como no objetivo mais amplo de estabelecer um Estado islâmico unificado.
Devemos então começar a pensar no Isil como um proto-Estado, uma entidade soberana não reconhecida, mas de facto? Ou o grupo terá um destino semelhante ao do Azawad, Estado rebelde no Mali que declarou independência e foi despachado por uma força internacional liderada pelos franceses.
Eu me inclinaria mais para o segundo caso. Em primeiro lugar, a marca brutal da sharia (a lei islâmica) que o Isil aplica nas áreas da Síria que controla - incluindo decapitações e amputações - parece provocar um enorme ressentimento nas pessoas que vivem sob sua bandeira negra.
Há sinais de que o Isil se espalhou demais na Síria e o território que ele controla está em constante mudança. O grupo trava atualmente uma guerra em três frentes: contra o governo iraquiano, as forças de Bashar Assad e outros movimentos rebeldes sírios. A oposição ao Isil é uma rara causa com a qual os líderes de EUA, Irã e até a Al-Qaeda podem concordar.
Por outro lado, como reporta o New York Times, sua força crescerá mais à medida que usar as “reservas de bancos de Mossul, equipamentos roubados de militares e postos policiais, e a soltura de 2,5 mil combatentes de prisões para reforçar sua capacidade militar e financeira”. Há evidências para sugerir que Assad aliviou a pressão em áreas controladas pelo Isil para semear a discórdia entre os grupos rebeldes.
Ainda não estou pronto para declarar o Isil como um verdadeiro Estado, mas o grupo provou que não deve ser subestimado. / Tradução de Celso Paciornik
*Joshua Keating é jornalista