
24 de fevereiro de 2012 | 03h01
Assad quer destruir a cidade irredutível de Homs para evitar o contágio para outros centros. Só assim se explica o encarniçamento com que o Exército sírio quer atingir jornalistas. Na quarta-feira de manhã, a jornalista americana Marie Colvin, do Sunday Times, dizia ao telefone: "O Exército sírio bombardeia a cidade de Homs, repleta de civis, que morrem de frio e de fome". Algumas horas mais tarde, Marie estava morta ao lado de um fotógrafo francês, Rémi Ochlik.
O grande jornalista francês Jean-Pierre Perrin, do Libération, que está em Homs, acha que foram assassinatos deliberados. Ele cita uma comunicação interceptada pelo Exército libanês, na qual oficiais sírios ordenavam a morte de todo jornalista surpreendido entre a fronteira libanesa e Homs. Eles orientavam que logo se declarasse que o jornalista havia sido morto por terroristas.
Por que essa pressa contra a grande cidade de Homs? Porque ela é, há meses, o emblema da revolta e do heroísmo. E o poder sírio teme que o exemplo de Homs incendeie outras cidades sírias. A matança teria, assim, a finalidade de ensinar às outras cidades. Para Alepo e a capital, Damasco, essa regra é simples: "Revoltar-se é morrer". Essa estratégia do terror não é inédita na Síria. Há 30 anos, em fevereiro de 1982, o presidente Hafez Assad, pai de Bashar Assad, agiu da mesma maneira, em outra cidade síria próxima, Hama.
Ali, revoltas instigadas pela Irmandade Muçulmana tinham sido deflagradas. Em outras cidades, notavam-se sinais de inquietação. Hafez Assad, em vez de lançar seus soldados sobre todos os pontos quentes do país, concentrou seus militares em Hama - submetendo-a a um pesado bombardeiro. Foi um massacre. Entre 10 mil e 35 mil mortos.
O mais interessante foi o que fez Hafez após a cidade de Hama ser "assassinada". Ele não procurou ocultar a façanha. Ao contrário. Mandou reabrir em seguida a cidade para que habitantes de outros locais pudessem contemplar os cadáveres que cobriam as ruas. Eles que se acalmassem. E eles assim fizeram.
Trinta anos depois, Homs faz o papel de Hama e o filho de Hafez, Bashar Assad, faz o papel de seu pai. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
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