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O exemplo de Homs

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Em Homs, terceira maior cidade da Síria, o massacre continua. Enquanto os ocidentais se agitam como podem, China e Rússia olham para o outro lado. Os 30 mil habitantes do bairro de Baba Amr, lugar quente da rebelião em Homs, estão cercados pelos tanques, bombardeados por lançadores de foguetes operados por bandidos que o regime de Bashar Assad armou e batizou de "soldados". Faltam víveres. O médicos estão impotentes para agir. Eles veem morrer os feridos que lhes são trazidos. Ontem, um médico gritava de desespero depois de ver um homem atingido na testa agonizar sob seus olhos durante dois dias, sem nenhum meio para salvá-lo. Assad quer destruir a cidade irredutível de Homs para evitar o contágio para outros centros. Só assim se explica o encarniçamento com que o Exército sírio quer atingir jornalistas. Na quarta-feira de manhã, a jornalista americana Marie Colvin, do Sunday Times, dizia ao telefone: "O Exército sírio bombardeia a cidade de Homs, repleta de civis, que morrem de frio e de fome". Algumas horas mais tarde, Marie estava morta ao lado de um fotógrafo francês, Rémi Ochlik. O grande jornalista francês Jean-Pierre Perrin, do Libération, que está em Homs, acha que foram assassinatos deliberados. Ele cita uma comunicação interceptada pelo Exército libanês, na qual oficiais sírios ordenavam a morte de todo jornalista surpreendido entre a fronteira libanesa e Homs. Eles orientavam que logo se declarasse que o jornalista havia sido morto por terroristas. Por que essa pressa contra a grande cidade de Homs? Porque ela é, há meses, o emblema da revolta e do heroísmo. E o poder sírio teme que o exemplo de Homs incendeie outras cidades sírias. A matança teria, assim, a finalidade de ensinar às outras cidades. Para Alepo e a capital, Damasco, essa regra é simples: "Revoltar-se é morrer". Essa estratégia do terror não é inédita na Síria. Há 30 anos, em fevereiro de 1982, o presidente Hafez Assad, pai de Bashar Assad, agiu da mesma maneira, em outra cidade síria próxima, Hama. Ali, revoltas instigadas pela Irmandade Muçulmana tinham sido deflagradas. Em outras cidades, notavam-se sinais de inquietação. Hafez Assad, em vez de lançar seus soldados sobre todos os pontos quentes do país, concentrou seus militares em Hama - submetendo-a a um pesado bombardeiro. Foi um massacre. Entre 10 mil e 35 mil mortos. O mais interessante foi o que fez Hafez após a cidade de Hama ser "assassinada". Ele não procurou ocultar a façanha. Ao contrário. Mandou reabrir em seguida a cidade para que habitantes de outros locais pudessem contemplar os cadáveres que cobriam as ruas. Eles que se acalmassem. E eles assim fizeram. Trinta anos depois, Homs faz o papel de Hama e o filho de Hafez, Bashar Assad, faz o papel de seu pai. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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