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O fator Putin

Por Gilles Lapouge
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Em Kiev, encontra-se boa parte do mundo: o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, os chanceleres de França, Alemanha e Polônia, os batalhões negros dos policiais ucranianos, altos representantes da União Europeia e as multidões desgrenhadas e heroicas dos combatentes da liberdade, reunidos na Praça Maidan, entre muralhas de fogo. No entanto, há um homem que não se vê: o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Ele não tem tempo. Está muito ocupado em seguir nas pistas geladas de Sochi os arabescos das patinadoras russas. No entanto, é nas suas mãos que estão as chaves da crise. Os ministros europeus podem se agitar no palco, mas se limitam a divertir o público. Na realidade, é nos bastidores tenebrosos desse "teatro da crueldade" que as coisas sérias acontecem. E, nesses bastidores, reina um homem: Putin. O ex-agente da KGB tem uma vantagem sobre seus colegas ocidentais: ele decide sozinho. Não precisa reunir dez comissões para tomar uma decisão. Ele reflete. Monta um plano. E o aplica, sem nenhum escrúpulo e sem confiar em quem quer que seja. Essa solidão lhe confere uma superioridade sobre as hordas de "tomadores de decisões" ocidentais que tagarelam, brigam, anunciam seus projetos, adormecem. E uma dupla vantagem. Primeiro, Putin é bem mais rápido que os ocidentais. Segundo, tem um poderoso aliado, o mistério. Putin é o silêncio. Um belo dia, esse silêncio começa a falar e o jogo de xadrez fica confuso. O que os ocidentais podem fazer? Convocar um conselho extraordinário. Assim, no caso da Ucrânia, ele poderá exibir uma espécie de "indiferença", mas, na verdade, o país é um peão decisivo em sua estratégia. Putin tem uma obsessão: reconstituir, se não a grande União Soviética, pelo menos uma "área de dominação ao redor da Rússia". A Ucrânia é a peça fundamental, país por muito tempo associado à Rússia, depois à URSS, e muito rico. Que recurso Putin poderia usar para manter a Ucrânia no círculo de influência russo, embora toda a metade ocidental do país, ao contrário, se alinhe com o Ocidente e só se volte para a Europa? Esse recurso é o dinheiro. Putin utiliza com maestria a arma monetária. A Rússia só desbloqueará os US$ 2 bilhões previstos no fim da semana se as forças da ordem de Yanukovich puserem de joelhos os revoltosos da Praça Maidan. "A Rússia cumprirá seus compromissos, mas com a condição de que a situação em Kiev seja normalizada", disse o Kremlin. Em outras palavras, Putin disse a Yanukovich: "Você terá os dólares, mas só se reprimir os revoltosos pró-Ocidente".*Gilles Lapouge é correspondente em Paris.TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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