17 de dezembro de 2010 | 00h00
Portanto, Thaci deveria estar satisfeito, já que volta ao cargo. Mas não é o caso. Dois problemas o incomodam: de um lado, ele é acusado de fraude eleitoral. Mais grave: durante a guerra contra a Sérvia, em 1999, ele liderava uma organização de tráfico de órgãos.
Uma operação simples: eram retirados os órgãos dos prisioneiros, que depois eram vendidos no exterior para cirurgiões em busca de fígados e rins. O interesse nessa indústria era duplo. De um lado, rendia um bom dinheiro. De outro, era "ideologicamente correto", pois os fígados e rins vendidos eram sérvios.
Um tráfico organizado como esse é tão espantoso que é difícil de acreditar. Mas as suspeitas são plausíveis. Elas foram levantadas primeiro por Carla del Ponte, então promotora do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugislávia. Agora, foram retomadas em relatório do deputado suíço Dick Marty. O documento foi feito para o Conselho da Europa e será submetido ao Parlamento de Estrasburgo, em janeiro. Os detalhes são insuportáveis.
Alguns prisioneiros eram levados à Albânia, onde eram conduzidos a uma "casa amarela", uma fazenda simples onde eram realizados testes sanguíneos e exames de saúde. Os considerados "bons para o serviço" eram então levados para um local próximo do aeroporto de Tirana, capital albanesa, onde funcionava um centro muito bem equipado.
Os prisioneiros escolhidos eram mortos com uma bala na cabeça. Seus órgãos eram retirados e exportados. O responsável era Shaip Muja, cirurgião kosovar e uma das "figuras históricas" do PDK, Partido Democrático do Kosovo, atualmente no poder. Hoje, ele é conselheiro de Thaci.
O relatório de Marty é terrível para a atual governo de Kosovo. Ele questiona as forças ocidentais, que ocupavam a região à época e nunca abriram uma investigação. Em Kosovo, governo e oposição rejeitaram indignadas as acusações. Segundo os kosovares, a história é uma fábula inventada pelos sérvios. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
É CORRESPONDENTE EM PARIS
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