A presença de Alan García sempre polarizou o Peru. E o seu desaparecimento fará o mesmo. Há quem diga que ele tirou a própria vida por medo das investigações do Ministério Público e da confissão de Jorge Barata, funcionário da Odebrecht. Outros afirmam que a perseguição permanente e obsessiva, sem provas, que o levariam à prisão preliminar, foi o que o levou a tomar a decisão fatal.
O suicídio do ex-presidente, no entanto, incendiará muito mais o debate político que já tinha sido iniciado com a prisão de Keiko Fujimori e de Pedro Pablo Kuczynski (PPK), recentemente. Promotores e juízes podem agir com imparcialidade e de acordo com a lei, ou realizar uma perseguição política com graves excessos?
O acontecimento certamente terá um impacto considerável em vários níveis e cenários na política peruana. Primeiro, desencadeará uma feroz polarização entre aqueles que apoiam os promotores e os juízes que combatem a corrupção e aqueles que os atacam.
O comportamento dos juízes que veem pedidos de detenções preliminares e preventivas pode variar. De fato, a prisão domiciliar solicitada pela promotoria para o ex-presidente PPK pode ser resultado do que aconteceu com García, e o medo de que PPK morra na prisão por problemas de saúde.
Os acusados e os investigados usarão esses fatos para tentar defender uma perseguição política ou “excessos” da parte de promotores e juízes. Acima de tudo, aqueles que enfrentam pedidos de extradição no exterior e aqueles que buscam asilo em outros países poderiam começar a reavaliar sua decisão. Os promotores manterão sua linha de investigação.
As decisões judiciais estarão sempre sujeitas a intensos debates políticos. As batalhas midiática e política, no entanto, serão muito mais intensas contra os promotores e o governo, que alguns apontam como o inspirador da perseguição para aumentar sua aprovação nas pesquisas.
Um setor da opinião pública peruana, “sensibilizado” pelo que aconteceu, pode começar a se converter em crítico do trabalho de promotores e juízes. Enquanto isso, outros enxergarão na ação de Alan García uma confirmação de sua culpa e do bom trabalho dos promotores. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO
* LUIS ENRIQUE CASTILLO É ANALISTA POLÍTICO